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Gabriel Guimarães, UFF
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Resumo
A aplicação de tecnologias emergentes, como o ultrassom de alta intensidade e o dióxido de carbono supercrítico, podem ser alternativas para melhorar a segurança e a qualidade na indústria de alimentos de origem animal, além de contribuírem com processos mais adequados do ponto de vista ambiental.
Essa foi a conclusão de tese de doutorado da Universidade Federal Fluminense (UFF), que foi selecionada pela CAPES como a melhor do país na área de Medicina Veterinária.
O ultrassom pode eliminar de forma eficaz bactérias patogênicas do leite e, na carne bovina, pode melhorar a maciez e ativar enzimas naturais, enquanto o dióxido de carbono supercrítico foi validado na conservação de pescados.
Ambas as tecnologias reduzem significativamente o consumo de energia, contribuindo na produção de alimentos mais saudáveis e com menor impacto ambiental.
A tese de doutorado de Yago Alves de Aguiar Bernardo, defendida junto à Universidade Federal Fluminense (UFF), explorou o uso de tecnologias não-térmicas – como o ultrassom de alta intensidade e o dióxido de carbono supercrítico – aplicadas ao processamento de alimentos de origem animal. A tese – orientada pelo Dr. Carlos Adam Conte Junior, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e coorientada pelo Dr. Denes Kaic Alves do Rosário, da UFF – foi premiada como a melhor do país na área de Medicina Veterinária pelo Prêmio CAPES de Tese 2024.
A proposta vai ao encontro da demanda crescente por métodos que preservem a qualidade dos alimentos tendo responsabilidade com o meio ambiente. “Os processos térmicos tradicionais, embora eficazes, apresentam altos custos energéticos e não atendem às exigências dos consumidores por soluções limpas e sustentáveis”, explicou o pesquisador.
A escolha pelas tecnologias emergentes não foi por acaso: ambas já são conhecidas por sua versatilidade e potencial de aplicação em diferentes etapas da cadeia produtiva, mas ainda carecem de estudos que comprovem sua eficiência e viabilidade em larga escala.
Yago Bernardo trabalhou com diferentes matrizes alimentares – leite caprino, carne bovina e pescado — em contextos distintos, avaliando desde a inativação de patógenos até a conservação e a melhoria da textura dos produtos.
“O ultrassom tem uma gama muito ampla de aplicações. Pode ser usado para amaciamento de carnes, inativação de microrganismos, secagem, descongelamento e até na intensificação de processos como a extração de compostos bioativos”, afirmou. A técnica se baseia no fenômeno da cavitação, que ocorre quando ondas sonoras de alta frequência formam e colapsam microbolhas em meio líquido, gerando efeitos físicos e químicos que destroem estruturas celulares.
Essas tecnologias não geram resíduos tóxicos e não deixam subprodutos prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente. Isso representa um avanço não só do ponto de vista científico, mas também social e ambiental
No leite, a aplicação do ultrassom de alta intensidade mostrou-se eficaz na eliminação de bactérias patogênicas como a Escherichia coli O157:H7, que faz parte do grupo dos coliformes fecais.
Yago Bernardo destacou que o processo de uso de ultrassom com temperaturas moderadas foi capaz de inativar o patógeno. “Os danos causados à membrana celular e ao material genético impedem que essas bactérias se multipliquem, o que garante um alimento mais seguro ao consumidor”, explicou.
Em relação à carne bovina, o ultrassom mostrou resultados expressivos ao provocar o enfraquecimento das fibras musculares e a ativação de enzimas naturais, como as calpaínas. “O efeito miofibrilar do ultrassom de alta intensidade contribui diretamente para a maciez da carne, algo valorizado tanto pela indústria quanto pelo consumidor final”, ressaltou o pesquisador.
Mas o pesquisador reconhece que ainda há barreiras para a adoção da técnica em escala industrial: “A primeira é estrutural: ainda não há equipamentos de ultrassom projetados para operar com grandes volumes de carne. Também é necessário avaliar o custo-benefício, o impacto sensorial no produto final e, claro, a aceitação do consumidor”.
No estudo, também foi considerada a aplicação do dióxido de carbono supercrítico na conservação de pescados. A tecnologia atua removendo a umidade e reduzindo a atividade de água dos alimentos, o que inibe o crescimento microbiano.
“A secagem com CO₂ supercrítico é muito mais rápida do que os métodos tradicionais e ainda preserva as características físico-químicas dos peixes”, afirmou Yago Bernardo. “Você estende a validade comercial sem comprometer a qualidade.”
Sustentabilidade
Um dos aspectos mais relevantes da pesquisa está na contribuição para uma indústria alimentícia mais limpa. Por não depender do uso de calor intenso, tanto o ultrassom quanto o CO₂ supercrítico reduzem significativamente o consumo de energia.
Ao propor soluções sustentáveis, eficientes e seguras, o estudo oferece subsídios concretos para a modernização da indústria alimentícia e aponta alternativas viáveis para um futuro com alimentos mais saudáveis e com menor impacto ambiental.
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