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Fonte
André Julião, Agência FAPESP
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Resumo
Pesquisadores da Unicamp usaram extração por ultrassom para agregar compostos valiosos das cascas de amêndoas de cacau ao mel de abelhas nativas brasileiras.
O novo processo enriqueceu o mel com compostos fenólicos, que têm atividades antioxidante e anti-inflamatória.
O novo produto – um mel ‘sabor chocolate’ – foi avaliado quanto à qualidade nutricional e também quanto à sustentabilidade.
Foco do Estudo
Estudo
Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveu um produto a partir do mel de abelhas nativas e cascas de amêndoa de cacau que pode tanto ser consumido diretamente quanto ser usado como ingrediente para as indústrias alimentícia e cosmética.
O mel de abelhas nativas foi usado como solvente comestível para extrair compostos como teobromina e cafeína das cascas da amêndoa do cacau, que são normalmente descartadas na fabricação de derivados como o chocolate. A teobromina e a cafeína são conhecidos estimulantes associados à saúde cardíaca.
O processo, que usou extração assistida por ultrassom, enriqueceu ainda o mel com compostos fenólicos, que têm atividades antioxidante e anti-inflamatória.
Os pesquisadores escolheram o mel de abelhas nativas pelo maior potencial como solvente, já que possui maior teor de água e menor viscosidade do que o mel da abelha-europeia (Apis mellifera). Foram testados méis de cinco espécies de abelhas que ocorrem no Brasil: borá (Tetragona clavipes), jataí (Tetragonisca angustula), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), mandaguari (Scaptotrigona postica) e moça-branca (Frieseomelitta varia).
O mel da mandaguari foi escolhido inicialmente para a otimização do processo por conta dos valores intermediários de água e viscosidade encontrados, embora posteriormente o processo otimizado tenha sido empregado para os outros méis analisados.
O Dr. Felipe Sanchez Bragagnolo, pesquisador de pós-doutorado na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp em Limeira, é o primeiro autor do estudo.
Claro que o apelo maior para o público é o sabor, mas nossas análises mostraram que [o produto] tem uma quantidade de compostos bioativos que o tornam bastante interessante do ponto de vista nutricional e cosmético
Resultados
A extração assistida por ultrassom consiste no uso de uma sonda colocada dentro de um pote com o mel e as cascas. A sonda utiliza ondas sonoras para melhorar a extração dos compostos das cascas da amêndoa do cacau, que migram para o solvente, que no caso é o mel.
O método é eficiente, entre outras razões, por formar microbolhas que implodem, aumentando pontualmente a temperatura e rompendo o material vegetal. A técnica é considerada ambientalmente amigável para a indústria de alimentos, pois é mais rápida e eficiente do que outras.
A sustentabilidade do produto foi analisada com o uso do software Path2Green, desenvolvido pelo grupo de pesquisa do Dr. Mauricio Ariel Rostagno, professor da FCA-Unicamp, que também é supervisor do pós-doutorado do Dr. Felipe Bragagnolo e coordenador do estudo.
A ferramenta verificou a concordância com 12 princípios da chamada química verde, como transporte, pós-tratamento, purificação e aplicação. O uso de um solvente comestível, local e pronto para uso foi um dos fatores de maior peso.
Os pesquisadores preparam ainda novos estudos para avaliar a ação do ultrassom na microbiologia do mel. Assim como faz com o material vegetal, o método rompe a parede celular de microrganismos como bactérias, que podem degradar o produto.
Embora ainda estejam planejando testes quanto ao sabor do produto e outras propriedades sensoriais, os pesquisadores destacaram que, a depender da proporção de mel e cascas, o produto pode ter sabor intenso de chocolate.
Em parceria com a Inova Unicamp, agência de inovação da universidade, os autores buscam agora parceiro interessado em licenciar o processo, cujo pedido de patente já foi depositado.
Futuramente, os pesquisadores pretendem testar outras aplicações utilizando o mel de abelhas nativas como solvente para extração assistida por ultrassom, como o processamento de outros resíduos vegetais.
Os resultados foram publicados na revista científica ACS Sustainable Chemistry & Engineering.
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Autores/Pesquisadores Citados
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