
Fonte
Gabriele Mello e Tabita Said, Jornal da USP
Publicação Original
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Resumo
Observando a falta de informações nutricionais sobre uma fruta típico do Cerrado brasileiro – a mama-cadela – pesquisadores desenvolveram um estudo para determinar sua composição nutricional, de forma a valorizar o consumo de frutas típicas brasileiras que ainda são desconhecidas por grande parte da população.
Os resultados mostraram que a fruta possui baixa densidade calórica mas é rica em compostos bioativos, carotenoides (com conteúdo importante de betacaroteno) e fibras, além de pró-vitamina A e vitamina C.
Como continuação da pesquisa, está sendo desenvolvida uma ‘Tabela de Composição de Alimentos Regionais e da Biodiversidade Brasileira’, para valorizar ainda mais a diversidade da alimentação.
Foco do Estudo
Por que é importante?
No Brasil, enquanto aumenta o consumo de alimentos ultraprocessados, diminui a ingestão de alimentos in natura, o que facilita o aparecimento de doenças crônicas.
Por outro lado, a diversidade alimentar ainda é baixa: as pessoas costumam consumir sempre os mesmos alimentos.
“A nossa alimentação está muito monótona”, destacou a Dra. Grazieli Pascoal, nutricionista e professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), explicando que os brasileiros consomem sempre os mesmos vegetais, as mesmas frutas e deixam de lado alimentos que já fizeram parte da cultura alimentar. “Conhecer esses alimentos é importante, inclusive para que a gente possa direcionar políticas públicas e de valorização dessa cultura [alimentar]”, completou a professora.
Por exemplo, a vitamina A – ou retinol – é encontrada nessa forma apenas em alimentos de origem animal. No entanto, frutas, legumes e verduras são ricos em compostos pró-vitamina A, os carotenoides, que ao serem ingeridos se transformam em vitamina A e exercem a mesma função no organismo.
Estudo
A mama-cadela (Brosimum gaudichaudii) é uma das frutas nativas pouco conhecidas da biodiversidade brasileira. Típica do Cerrado, de cor amarela a alaranjada, é pequena e tem a polpa doce e fibrosa, mas não havia na literatura científica estudos apontando sua composição nutricional.
Inspirada na falta de informações sobre a composição da fruta, a Dra. Grazieli Pascoal decidiu analisar as características nutricionais da mama-cadela em seu pós-doutorado, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP). O estudo contou com a colaboração de colegas da FCF-USP, da Faculdade de Medicina da UFU, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp).
As frutas foram coletadas em Uberlândia, Minas Gerais, por um pequeno produtor, e trazidas congeladas para São Paulo, onde a pesquisadora submeteu as amostras a análises que determinaram seu teor de carboidratos, gorduras e proteínas, além de vitaminas, fibras, calorias e açúcares.
O estudo foi publicado na revista científica Journal of the Brazilian Chemical Society.
O projeto surgiu com a ideia de resgatar saberes, de trazer para a população frutos que não são conhecidos, que são negligenciados pela população
Resultados
Um dos achados da pesquisa revelou que a mama-cadela é rica em compostos bioativos, carotenoides e fibras, substâncias que não são consideradas nutrientes, mas que trazem benefícios para o organismo, exercendo funções antioxidantes.
Entre os carotenoides, o mais abundante na mama-cadela é o betacaroteno, que traz a cor alaranjada para a fruta, e é essencial para a saúde dos olhos.
Uma porção de mama-cadela, que equivale a seis unidades da fruta, atende a mais de 60% da recomendação diária de vitamina A, valor próximo ao da cenoura.
A fruta também foi considerada fonte de vitamina C, que tem um importante papel antioxidante no organismo, além de auxiliar na absorção do ferro. A quantidade da vitamina presente na porção equivale a um quarto de laranja, e atende até 18% da recomendação diária para mulheres adultas.
Além das vitaminas A e C, o fruto também é fonte de fibras, que trazem benefícios à saúde gastrointestinal e à microbiota intestinal, atingindo 10% do que é recomendado para ingestão de pessoas adultas. E, assim como outras frutas, a mama-cadela tem uma baixa densidade calórica, ou seja, tem poucas calorias por grama de alimento.
Além da análise da composição nutricional da mama-cadela, a professora Grazieli Pascoal trabalha no desenvolvimento de uma tabela de composição que aborda a biodiversidade brasileira, a Tabela de Composição de Alimentos Regionais e da Biodiversidade Brasileira, junto ao Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários (Cieps) na Faculdade de Medicina da UFU, onde se encontram as informações sobre a mama-cadela.
A mama-cadela, dentro de uma alimentação saudável, pode trazer vários benefícios com relação à quantidade de vitamina A – na forma de equivalentes da vitamina –, fibra alimentar e vitamina C
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Publicação
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