
Fonte
Gabriele Mello, Tabita Said e Fabiana Mariz, Jornal da USP
Publicação Original
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Resumo
O ambiente de uma UTI Neonatal em modelo de sala aberta, que em geral acolhe bebês recém-nascidos prematuros, ainda pode oferecer várias condições de estresse ao bebê.
Como, nessa fase, o estresse pode interferir na capacidade de autorregulação emocional e comportamental, pesquisadoras da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP compararam as reações de bebês nesse tipo de UTI Neonatal com as reações de bebês em uma UTI Neonatal em modelo individualizado, em que o bebê permanece em um ambiente de quarto familiar individual.
O estudo mostrou que bebês mantidos no modelo de UTI Neonatal individualizada apresentaram menos comportamentos de estresse total e mais comportamentos de autorregulação total.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Bebês prematuros são aqueles que nasceram antes de 37 semanas de gestação e têm a UTI Neonatal como um ambiente essencial para seu desenvolvimento inicial.
Procedimentos dolorosos, toques, luminosidade, barulho e até mesmo a gravidade são mudanças sentidas por um bebê ao sair do útero, e que podem gerar estresse.
O estresse em bebês acontece de forma fisiológica, refletida em comportamentos motores e no estado de atenção, com sinais como bocejos, soluços, tremores, caretas, sustos, postura tensa e sono agitado.
A exposição ao estresse pode ter consequências físicas, como maior risco de lesões neurológicas, além de afetar a capacidade de autorregulação emocional e comportamental, aumentando o risco de transtornos do desenvolvimento.
Estudo
Pesquisadoras da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) analisaram, através da observação de 40 recém-nascidos prematuros internados em duas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neonatal), que o ambiente tem influência nos níveis de estresse destes bebês. Como consequência, o neurodesenvolvimento deles também é afetado.
O estudo foi desenvolvido por Nathália de Figueiredo Silva, atualmente doutoranda em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestra em Ciências pela FMRP-USP; pela Dra. Maria Beatriz Martins Linhares e pela Dra. Cláudia Maria Gaspardo, ambas professoras do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP-USP.
O estudo comparou, através da observação e aplicação de protocolos, dois grupos de recém-nascidos durante sua primeira semana de vida, que ficaram em diferentes ambientes de UTI Neonatal.
O primeiro grupo (de 20 recém-nascidos) estava no prédio do Hospital das Clínicas da FMRP-USP, com um ambiente amplo e compartilhado, modelo conhecido como sala aberta. Já o segundo grupo (também de 20 recém-nascidos) estava no HC Criança, também da FMRP-USP, com uma estrutura pensada para o atendimento individualizado, no modelo de quarto familiar individual. A comparação foi possível porque a UTI do HC estava sendo transferida para o prédio do HC Criança.
Novo protocolo
Para avaliar comportamentos de estresse e autorregulação, as pesquisadoras desenvolveram um protocolo observacional próprio, adaptado à realidade brasileira, baseado no Assessment of Preterm Infants Behavior (Apib), uma ferramenta já validada para documentar, através da observação, o funcionamento neurocomportamental de recém-nascidos.
“A gente não tinha um protocolo que fizesse uma avaliação das estratégias de proteção, o foco é muito maior no fator de risco”, destacou a Dra. Cláudia Gaspardo. “Então, por meio de uma literatura onde eram descritas as melhores práticas para promover o desenvolvimento [do prematuro], nós elaboramos esse protocolo de observação de estratégias de proteção”, completou a professora.
O bebê sai do ambiente de desenvolvimento ideal, que é o intraútero, e passa para uma UTI. Por mais que esse novo ambiente seja para garantir a vida desses bebês, ele tem mais características estressoras do que promotoras de um melhor desenvolvimento
Resultados
Os indicadores observados para comportamento de estresse e de regulação foram divididos em sistema autônomo, responsável por reflexos como bocejos e respiração; sistema motor, que tem como sinais caretas e movimentação das mãos; e estado comportamental, exibida em comportamentos como choro e expressão animada.
Os neonatos prematuros hospitalizados na UTI Neonatal em quarto familiar individual exibiram significativamente menos comportamentos de estresse total, especificamente no sistema motor, em comparação com aqueles na UTI Neonatal no modelo sala aberta.
Além disso, os neonatos prematuros hospitalizados na UTI Neonatal em quarto familiar individual exibiram significativamente mais comportamentos de autorregulação total, especificamente no sistema de estado comportamental, em comparação com aqueles na UTI Neonatal de sala aberta.
Os resultados mostraram que o modelo de UTI Neonatal de quarto familiar individual foi consistente com a proteção ambiental da regulação biocomportamental em neonatos prematuros hospitalizados na UTI Neonatal.
A gente precisa mudar a nossa filosofia de cuidado em terapia intensiva, para que o nosso serviço se dê em torno do bebê, e não da nossa rotina e necessidades de serviço, que é o que acontece hoje
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Autores/Pesquisadores Citados
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Publicação
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