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Bactéria Leptospira em tecido de biópsia renal
Fonte
Theo Schwan e Fabiana Mariz, Jornal da USP
Publicação Original
Áreas
Resumo
Com as mudanças climáticas e temperaturas mais altas – que facilitam a multiplicação de vetores -, doenças infecciosas emergentes de origem zoonótica têm aumentado.
Em todo o mundo, estudos que têm sido usados como base para políticas públicas têm considerado, em sua maioria, apenas a exposição aos patógenos e os perigos imediatos como indicadores para identificar a fração da população e as áreas com maior risco de infecção e transmissão de doenças.
Porém, um novo estudo alerta que é necessário considerar a vulnerabilidade socioeconômica e ambiental da população como um indicador epidemiológico importante, que pode ajudar a direcionar melhor políticas públicas mais efetivas.
Foco do Estudo
Estudo
Pesquisa realizada em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) acaba de propor um novo olhar sobre as zoonoses, incluindo arboviroses, de maior incidência no mundo, como a dengue, a malária e a leptospirose.
A revisão sistemática de 312 artigos publicados entre 1997 e 2023 mostrou que mais de 90% dos resultados obtidos mundialmente desconsideram pelo menos um indicador epidemiológico para os riscos de contração de infecções transmitidas por animais. No Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), a identificação dessas lacunas auxiliou no desenho de um plano de adaptação para os novos desafios climáticos no estado de São Paulo.
O estudo, publicado na revista científica One Earth, questiona a eficácia das políticas públicas baseadas em estudos anteriores. “Mais da metade dos artigos na área não avaliam o cenário inteiro”, afirmou a Dra. Raquel Luiza de Carvalho, professora do Instituto de Biociências da USP (IB-USP) e primeira autora do artigo.
A professora apontou três indicadores cruciais para identificar a fração da população e as áreas com maior risco de contração e transmissão de doenças: a exposição aos patógenos, os perigos imediatos – focos de Aedes aegypti, por exemplo – e a vulnerabilidade socioeconômica e ambiental da população. Os resultados revelam que apenas 7,4% dos métodos analisados integraram os três indicadores.
A Dra. Raquel de Carvalho ressaltou que, para orientar efetivamente os processos de tomada de decisões políticas, as avaliações de risco devem ser integradas ao desenvolvimento de programas públicos de vigilância e controle zoonótico. A unificação é uma estratégia que visa garantir que fatores biológicos e socioeconômicos forneçam informações para mitigação da probabilidade de contágio.
Se ignorarmos as condições de vida da população, estamos subestimando os riscos epidemiológicos
Resultados
O artigo traz um dado preocupante: 75% das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas, ou seja, transmitidas por animais e insetos. “Com o aumento da temperatura, a presença de vetores – animais como mosquitos, carrapatos e roedores – também aumenta. Quase 80% dos transmissores estudados se proliferam em climas mais quentes”, alertou a Dra. Raquel.
Entender a relação entre o ambiente e emergências de saúde pública é fundamental, mas não o suficiente para implementar medidas efetivas na prevenção e controle de epidemias. Dos modelos analisados, mais de 70% contavam apenas com variáveis ambientais para explicar a distribuição e a presença de vetores e hospedeiros.
Os resultados do artigo foram aplicados no desenvolvimento do Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC) paulista. Coordenado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL), o projeto foi lançado no início do mês de junho.
Atenta ao fatores epidemiológicos, a junta de pesquisadores e agentes políticos envolvidos no projeto propôs um método para identificar o risco de infecções transmitidas por animais. O esforço tem como objetivo avaliar riscos sanitários associados às alterações ambientais, bem como sua distribuição espacial e populacional.
O plano para mitigação das arboviroses é resultado do trabalho conduzido pela equipe do Biota Síntese. O grupo, sediado no IEA-USP, integra pesquisadores de diversas áreas para traduzir dados científicos em políticas públicas.
Vinculado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o núcleo reuniu especialistas em ecologia, saúde e gestão ambiental para desenvolver, em parceria com o governo paulista, o primeiro plano estadual a combinar indicadores ecológicos, epidemiológicos e sociais no enfrentamento de arboviroses.
A professora Raquel destacou a importância da aproximação entre administradores públicos e a produção de ciência robusta. Segundo ela, é a aplicação do estudo que materializa seus resultados e que promove impacto duradouro na política.
Agora, a equipe da professora Raquel está preparando um modelo para estudar os perigos impostos pelo mosquito Aedes aegypti. Os pesquisadores esperam compreender melhor a epidemia da dengue no município de São Paulo e minimizar os riscos para a população local.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
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