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Alison Sneag, UCLA
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Resumo
O diretor executivo do Instituto de Estudos Alimentares da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos EUA, analisou os desafios atuais da produção e do consumo de alimentos, sob o ponto de vista tanto da saúde em termos populacionais quanto da sustentabilidade.
Apesar de ser difícil fazer uma análise crítica completa, o pesquisador destacou que muitas vezes alternativas alimentares que podem não ser as melhores talvez sejam as únicas disponíveis, dependendo da região, da condição econômica e da própria cultura, que muitas vezes impele as pessoas a certos hábitos de consumo.
De qualquer maneira, o especialista destacou que avanços vêm sendo conquistados, e que é necessário evoluir ainda mais nos aspectos da sustentabilidade ambiental e do próprio planeta.
Relacionar a alimentação global ao futuro do planeta não é nada fácil. A questão da sustentabilidade pode ser vista tanto do ponto de vista global como também do ponto de vista local, e pode ser analisada sob perspectivas diversas e muitas vezes contraditórias.
Olhando para a evolução da sustentabilidade da agricultura e pecuária, para os problemas relacionados às escolhas alimentares individuais e para os desafios da alimentação em uma população global crescente, o Dr. Jack Bobo – diretor executivo do Instituto de Estudos Alimentares da Universidadde da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos EUA – apresentou uma perspectiva sobre alimentação sustentável em um futuro próximo.
Sustentabilidade da agricultura e pecuária
“As práticas agrícolas melhoraram drasticamente desde a década de 1980 em muitas áreas, desde menos emissões de gases de efeito estufa até melhorias nos gastos com água e energia”, disse o Dr. Jack Bobo. Mas muitos desafios ainda persistem:
- Pelo menos 40% de todas as terras do planeta são atualmente dedicadas à agricultura, o que representa cerca de 70% de todas as captações de água doce;
- De 10% a 15% dos gases de efeito estufa vêm diretamente da agricultura e outros 10% a 15% do desmatamento — 80% dos quais são causados pela agricultura;
- O mundo precisa de 25% a 75% mais alimentos até 2050 para alimentar uma população crescente;
- Cerca de 9 milhões de pessoas morrem todos os anos de doenças relacionadas à fome, ou cerca de 1.000 pessoas a cada hora.
“O uso de menos insumos, como pesticidas e fertilizantes, pode causar menos danos locais e promover a biodiversidade, mas resultar em menos alimentos produzidos; sistemas de agricultura intensiva podem causar impactos locais, ao mesmo tempo em que produzem alimentos que alimentam mais pessoas e reduzem a pressão sobre florestas distantes”, destacou o pesquisador.
“Em vez de considerar [estas alternativas] como boas ou ruins, certas ou erradas, é apenas um continuum de sustentabilidade, da sustentabilidade local à sustentabilidade global, e sempre haverá compensações entre duas [alternativas]”, disse o Dr. Jack Bobo.
Dietas que não funcionam
Os EUA gastam cerca de US$ 1,1 trilhão por ano para tratar doenças relacionadas às escolhas alimentares, de acordo com a Fundação Rockefeller, e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação estima que o custo global do sistema alimentar seja de US$ 10 trilhões a US$ 12 trilhões.
“As pessoas estão gastando bilhões de dólares em dietas que simplesmente não funcionam para elas. Nunca soubemos tanto sobre saúde e nutrição, e nunca fomos tão obesos. Nunca tivemos tantas opções ou melhores rótulos nutricionais em nossos supermercados, e ainda assim o problema nunca foi tão grave. Como isso pode ser possível?”, questionou o Dr. Jack Bobo.
Tudo se resume à cultura e ao ambiente alimentar, disse o pesquisador. As pessoas na década de 1960 sabiam menos sobre saúde e nutrição, e as frutas e vegetais que comiam não eram muito diversos.
“Não é uma falha individual. Não é porque as pessoas estão querendo fazer a coisa errada. É o ambiente alimentar em que vivemos que está impulsionando esses resultados. Tudo em um supermercado é projetado para maximizar valor para o supermercado, não para melhorar sua saúde”, enfatizou.
Estudos mostram que dietas baseadas em alimentos integrais [e in natura] e opções de origem vegetal podem prevenir diversas condições médicas crônicas. Mas comprar e preparar esses alimentos pode não ser prático para todos.
Alimentos integrais e in natura costumam ter um prazo de validade menor, o que aumenta o desperdício de alimentos. Além da importância de evitar o desperdício em si, essa é uma questão importante para famílias mais pobres que preferem comprar alimentos com prazo de validade maior.
“Se a sugestão principal for comer alimentos integrais, principalmente vegetais, isso significa que a maioria das pessoas de baixa renda está falhando na alimentação? E o desperdício de alimentos?”, perguntou o pesquisador.
“Podemos começar aumentando o consumo de alimentos integrais, depois comendo alimentos menos processados, com maior prazo de validade, que podem ser congelados ou enlatados. E então os alimentos ultraprocessados teriam um papel menor em nossa dieta e deveríamos reduzi-los sempre que possível — em vez de querer ‘eliminá-los’: já sabemos que as pessoas não vão realmente fazer isso. O que não queremos é estigmatizar indivíduos que estão fazendo o melhor que podem por suas famílias, muitas vezes com tempo e dinheiro limitados”, disse o Dr. Jack Bobo.
O desafios de sustentabilidade fazem com que só vejamos os impactos, não as melhorias. Mas isso não significa que não haja progressos. Em vez de pedir às pessoas que se sacrifiquem pelo futuro, deveríamos pedir que o abracem. Acho que isso traz mais esperança e reflete cem anos de inovação e avanços
Alimentos do futuro e proteínas alternativas
O programa ‘Future of Food Fellows’ da UCLA, liderado pela Dra. Amy Rowat, biofísica e coordenadora do Instituto de Estudos Alimentares da UCLA, está pesquisando soluções em agricultura celular, uma indústria emergente que está desenvolvendo maneiras de escalar sistemas alimentares acessíveis e sustentáveis. Atualmente, sua primeira coorte inaugural para 2024–2025 recebeu fundos estaduais para pesquisa e desenvolvimento de carne cultivada.
“Acho que às vezes as pessoas sentem que essas proteínas alternativas estão tentando minar nossos alimentos tradicionais (…). Precisamos de 25% a 75% mais proteína e mais alimentos até 2050. Provavelmente não chegaremos lá dobrando o número de animais no planeta — temos que encontrar uma maneira de atender a essa necessidade futura para que as pessoas possam ser alimentadas de forma sustentável e nutritiva (…)”, argumentou o Dr. Jack Bobo.
Produção e consumo locais?
Comprar alimentos cultivados localmente, ou alimentos que viajam menos ‘quilômetros alimentares’ — a distância entre onde algo é produzido e onde é consumido — pode ser mais fácil para as pessoas de determinado lugar. Mas isso nem sempre é possível para todos.
Os ‘quilômetros alimentares’ podem ser uma medida razoável de sustentabilidade em alguns lugares. “Há enormes benefícios na produção local que vão além da sustentabilidade, porque você também está apoiando a economia local. Há benefícios socioeconômicos e culturais em comprar produtos locais”, reforçou o pesquisador.
Sustentabilidade
É importante considerar todos esses fatores em vez de procurar vencedores e perdedores: “Precisamos garantir que a sustentabilidade dos alimentos que produzimos melhore a cada ano e melhore mais rápido a cada ano”, concluiu o pesquisador.
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Acesse a notícia original completa na página da Universidade da Califórnia em Los Angeles (em inglês).
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