
Reprodução, UCSF
Visão 3D de ovário de camundongo, com cada óvulo marcado em verde e os folículos em crescimento em magenta
Fonte
Sarah C.P. Williams, UCSF
Publicação Original
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Resumo
A partir do desenvolvimento de uma nova técnica tridimensional de imagem que permitiu visualizar óvulos nos ovários de uma maneira sem precedentes, pesquisadores conseguiram avançar no conhecimento sobre a evolução da saúde reprodutiva ao longo dos anos.
Após estudarem quase 100.000 células humanas e de camundongos, eles identificaram 11 tipos principais de células encontradas nos ovários, incluindo células da glia como células de suporte.
O estudo mostrou que o ambiente circundante do ovário desempenha um papel crucial na forma como os óvulos amadurecem e na rapidez com que a fertilidade diminui.
Compreender as mudanças desse ecossistema ao longo dos anos pode ser a chave não apenas para prolongar a fertilidade, mas também para melhorar a saúde em geral.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Em relação à fertilidade feminina e à dificuldade de engravidar, há décadas os cientistas apontam a queda na qualidade dos óvulos como a principal culpada pela diminuição contínua na chance de uma mulher engravidar a partir dos 25 anos.
Mas outros fatores também podem estar envolvidos, e o avanço científico sobre a questão da saúde reprodutiva da mulher é fundamental e pode impactar bilhões de pessoas em todo o mundo.
Estudo
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Franscisco (UCSF) e do Chan Zuckerberg Biohub San Francisco, nos EUA, mostrou que a dificuldade de engravidar vai além dos óvulos: as células e os tecidos circundantes do ovário desempenham um papel crucial na forma como os óvulos amadurecem e na rapidez com que a fertilidade diminui.
“Há muito tempo pensamos no envelhecimento ovariano como simplesmente um problema de qualidade e quantidade de óvulos. O que mostramos é que o ambiente ao redor dos óvulos — as células de suporte, os nervos e o tecido conjuntivo — também muda com a idade”, disse a Dra. Diana Laird, professora de Obstetrícia, Ginecologia e Ciências Reprodutivas da UCSF e autora sênior do estudo, publicado na revista Science.
Compreender as mudanças no ambiente ao redor dos óvulos pode ser a chave não apenas para prolongar a fertilidade, mas também para melhorar a saúde. Os riscos de muitas doenças relacionadas à idade aumentam após a menopausa ou a remoção dos ovários, e retardar o envelhecimento ovariano pode ajudar a reduzir esses riscos.
No estudo, os pesquisadores se propuseram a traçar o perfil do envelhecimento normal de ovários de camundongos e humanos. Para isso, eles desenvolveram uma nova técnica de imagem tridimensional que lhes permitiu visualizar óvulos nos ovários sem precisar fatiar os órgãos em camadas finas, como era feito anteriormente.
Ao combinar a tecnologia de imagem de ponta do laboratório [da professora] Laird com a expertise do Biohub em dois tipos de sequenciamento de células únicas, conseguimos entender o ovário com detalhes sem precedentes. Essa abordagem baseada em tecnologia nos permitiu descobrir novos tipos de células, fornecendo uma base para futuras descobertas em saúde reprodutiva
Resultados
Em camundongos com idade equivalente a 30 a 40 anos humanos, os pesquisadores observaram uma queda drástica tanto nos óvulos imaturos em repouso, que aguardam em reserva, quanto nos óvulos em crescimento, que estavam começando a amadurecer para a ovulação. E os camundongos não conceberam facilmente com a fertilização in vitro (FIV).
Quando os cientistas estenderam suas imagens 3D aos ovários humanos, descobriram algo inesperado: os óvulos não estavam uniformemente espalhados por todo o ovário. Em vez disso, eles se agrupavam em ‘bolsas’ cercadas por ‘zonas livres de óvulos’. Com a idade, a densidade de óvulos dentro dessas bolsas diminuía.
“Isso foi uma surpresa. Presumimos que os óvulos seriam distribuídos de forma mais uniforme com base no que observamos no ovário em desenvolvimento. Essas bolsas sugerem que, mesmo dentro de um ovário, o ambiente ao redor do óvulo pode influenciar sua duração e seu amadurecimento”, explicou a professora Diana Laird.
Então, os pesquisadores se uniram ao grupo da Dra. Norma Neff, diretora da Plataforma Genômica do Biohub de San Francisco, para estudar quais genes estavam ativos nas células do ovário à medida que envelheciam. Tecido ovariano humano é difícil de encontrar e os óvulos são grandes e incrivelmente frágeis. Assim, em vez de usar dispositivos em miniatura padrão que separam e marcam células para sequenciar seus genes ativos, o grupo isolou meticulosamente óvulos individuais para separá-los de outras células.
Após estudarem quase 100.000 células humanas e de camundongos, eles identificaram 11 tipos principais de células encontradas nos ovários, incluindo uma surpresa: a glia – um tipo de célula de suporte tipicamente associada ao sistema nervoso e mais extensivamente estudada no cérebro – também estava presente nos ovários.
Em paralelo, o estudo revelou que os nervos simpáticos formam redes densas nos ovários que se tornam ainda mais densas com a idade. Quando os pesquisadores ablacionaram esses nervos em camundongos, os animais tinham mais óvulos em reserva, mas menos óvulos que amadureceram, sugerindo que os nervos ajudam a decidir quando os óvulos começam a crescer.
Em conjunto, as observações sobre a glia e os nervos simpáticos sugerem um novo papel para o sistema nervoso na saúde ovariana.
Outra observação foi que os fibroblastos, que também são células de suporte, também mudaram com a idade, desencadeando inflamação e cicatrização nos ovários de mulheres na faixa dos 50 anos — anos antes do surgimento dessas cicatrizes em órgãos como os pulmões ou o fígado.
“Tudo isso aponta para uma nova linha de investigação sobre como nervos, vasos sanguíneos e outros tipos de células se comunicam com os óvulos. Isso nos mostrou que o envelhecimento ovariano não diz respeito apenas aos óvulos, mas a todo o seu ecossistema”, destacou a professora Diana Laird.
Para os pesquisadores, outro resultado importante do novo trabalho foi a semelhança entre os ovários humanos e os de camundongos.
“Até agora, não estava claro se poderíamos usar camundongos como modelo para humanos no que diz respeito aos ovários – temos janelas reprodutivas bastante diferentes”, disse a professora Diana Laird. “Mas as semelhanças que observamos neste estudo nos deixam confiantes de que podemos avançar com camundongos e aplicar essas lições aos humanos”, completou.
Além disso, o estudo oferece um ponto de partida para questionar como o envelhecimento ovariano muda em diferentes situações.
Os pesquisadores estão agora iniciando estudos para investigar se o momento ou a velocidade do envelhecimento ovariano podem ser alterados por medicamentos. Em última análise, eles esperam descobrir maneiras de retardar ou atrasar o envelhecimento ovariano, impactando tanto a fertilidade quanto outras doenças, como as cardiovasculares, comuns em mulheres após a menopausa.
A fonte da juventude pode ser, na verdade, o ovário. Retardar o envelhecimento ovariano pode promover um envelhecimento mais saudável em geral
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