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Aline Fernandes França, Portal Ciência UFPR
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Resumo
Cientistas da Universidade Federal do Paraná, em um trabalho colaborativo com peritos da Polícia Federal, realizaram uma análise em amostras de possíveis manteigas adulteradas usando a técnica de espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear, em conjunto com a análise da razão de isótopos estáveis de Carbono e a análise de componentes principais.
Os resultados mostraram que as amostras a serem comercializadas estavam adulteradas pelo emprego de materiais como óleo vegetal e aromatizantes, e os produtos fraudulentos continham uma quantidade mínima ou nenhuma quantidade de gordura do leite.
Foco do Estudo
Por que é importante?
A fraude alimentar é um problema global que movimenta um mercado bilionário.
Neste cenário, o aumento do consumo de laticínios no Brasil acende um alerta sobre a adulteração nesse tipo de produto.
Uma das práticas consiste em substituir a gordura do leite, ingrediente nobre e nutritivo, por alternativas mais baratas, como óleo de palma, margarina ou até banha de porco, criando sérios riscos à saúde.
Estudo
Em uma operação recente, a Polícia Federal do Brasil apreendeu lotes de uma marca de manteiga vendida em supermercados sob suspeita de adulteração. Para desvendar a fraude, peritos recorreram a uma parceria com cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que utilizaram uma tecnologia normalmente usada na área da saúde para a investigação.
As amostras apreendidas pela Polícia Federal, junto a matérias-primas como óleo de palma e aromatizantes encontrados nos locais de produção, foram levadas ao Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) da UFPR.
A principal ferramenta utilizada na investigação foi a espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN), técnica que funciona como uma espécie de ‘impressão digital química’. A técnica permite analisar a composição química de qualquer material e revela seus componentes, sendo ideal para detectar adulterações.
Por meio dos espectros de RMN, os pesquisadores verificaram a adulteração dos produtos: “Empregando a técnica de RMN e de análise isotópica (que identifica a composição de substâncias pela proporção de isótopos presentes), averiguamos que as amostras a serem comercializadas estavam adulteradas pelo emprego de materiais como óleo vegetal e aromatizantes”, disse a Dra. Leice Novais, pesquisadora de pós-doutorado e autora principal do estudo, publicado na revista científica Food Additives & Contaminants. Legalmente, a manteiga só pode conter gordura láctea.
O Dr. Andersson Barison, pesquisador do Laboratório Multiusuário de RMN da UFPR, explicou que a técnica permite analisar a composição química de qualquer tipo de amostra, até por exemplo saber se uma batata é ou não de produção orgânica.
De acordo com o pesquisador, o Laboratório de RMN se fundamenta na necessidade de capacitar peritos para que eles mesmos possam desenvolver suas análises utilizando o equipamento de RMN, tanto a parte técnica quanto a discussão dos resultados de laudos. Por isso, as análises foram desenvolvidas pela pesquisadora e pelo perito criminal responsável, que esteve presente em todo o período experimental.
Qualquer tipo de adulteração, falsificação ou alteração, como no caso da manteiga, corresponde à prática de procedimentos não controlados, sem garantias, podendo colocar em risco a saúde humana. O produto perde sua certificação e segurança. Acrescenta-se ainda que a adição de componentes exógenos à manteiga implica em prejuízos à saúde, principalmente de pessoas que necessitam de alimentação restritiva
Resultados
Após a conclusão das análises, a equipe da UFPR se reuniu com os peritos criminais para interpretação e discussão dos dados que subsidiaram a elaboração do laudo pericial.
Para uma contraprova definitiva, a equipe recorreu a uma segunda técnica: a Análise de Razão de Isótopos Estáveis de Carbono (SCIRA), realizada no Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília.
No Brasil, o gado é alimentado principalmente com plantas do tipo C4, como pastagens tropicais, que deixam uma marca isotópica específica no leite e na manteiga. Já os óleos vegetais, como o de palma, vêm de plantas do tipo C3, com uma assinatura completamente diferente. O método utilizado na pesquisa consegue, portanto, identificar informações sobre a dieta do gado.
Os resultados foram nítidos: as manteigas comerciais de referência apresentaram a assinatura isotópica esperada para produtos lácteos brasileiros e as amostras apreendidas tinham valores consistentes com fontes vegetais puras.
A conclusão, reforçada pela Análise de Componentes Principais (PCA), um método estatístico que agrupou visualmente as amostras adulteradas, foi de que os produtos fraudulentos continham uma quantidade mínima ou nenhuma quantidade de gordura do leite.
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
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