
Fonte
Camila Fernandes de Souza, Jornal da Universidade/UFRGS
Publicação Original
Áreas
Resumo
Uma equipe internacional de pesquisadores, envolvida no projeto Mutographs do Cancer Research UK, tem estudado fatores que podem contribuir com a ocorrência do câncer colorretal em adultos com menos de 50 anos.
Recentemente, os pesquisadores identificaram que a exposição à toxina colibactina durante a infância pode estar relacionada à ocorrência precoce do câncer colorretal.
Pesquisadores brasileiros também estiveram envolvidos no estudo, que analisou o genoma de 981 pacientes com câncer colorretal em todo o mundo.
Os resultados destacam a importância do rastreamento da doença, que atualmente começa aos 45 anos.
Foco do Estudo
Por que é importante?
O câncer colorretal, que tinha maior incidência entre indivíduos com mais de 50 anos, tem se tornado mais comum entre a população mais jovem. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de incidência da doença entre pessoas com idade entre 30 e 34 anos aumentou 71% entre 1999 e 2020.
As possíveis causas da doença em idade avançada são conhecidas: consumo excessivo de ultraprocessados e de álcool, tabagismo e sedentarismo. A explicação para o aumento da doença entre pessoas mais novas, porém, ainda não havia sido identificada.
Estudo
Um estudo recente, publicado na revista científica Nature, identificou que a exposição à colibactina – uma toxina secretada pela bactéria Escherichia coli (E. coli) – durante a infância pode estar relacionada à ocorrência de câncer colorretal precoce.
No Brasil, a pesquisa contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), do A.C. Camargo Cancer Center e do Hospital de Amor (Hospital de Câncer de Barretos).
O estudo integra o projeto Mutographs, um projeto internacional que inclui centros de pesquisa em 30 países com a finalidade de descobrir causas desconhecidas do câncer por meio de assinaturas no DNA. O projeto Mutographs é um projeto do tipo ‘Grand Challenge’ do Cancer Research UK, a maior organização independente de pesquisa sobre o câncer do mundo.
Na etapa da pesquisa recém-concluída, os pesquisadores analisaram o genoma de 981 pacientes com câncer colorretal em todo o mundo, incluindo 159 pacientes do Brasil.
Talvez 20 anos atrás tenha acontecido alguma coisa que aumentou as cepas mais graves das bactérias que secretam a colibatina, o que se reflete hoje na explicação desses casos [precoces do câncer colorretal]
Resultados
Nos tumores analisados, a presença das mutações geradas pela colibactina – uma toxina secretada pela bactéria Escherichia coli (E. coli) – foi três vezes mais comum em pacientes com menos de 40 anos do que em pacientes com mais de 70 anos. A Escherichia coli é uma causadora frequente de infecção intestinal da infância, embora atinja também outras faixas etárias.
Para os pesquisadores, o resultado demonstra a importância do rastreamento da doença, que hoje em dia começa aos 45 anos. O exame de colonoscopia, por exemplo, é capaz de identificar lesões precursoras na região, os pólipos. Nos casos mais críticos, eles podem evoluir até se tornarem um carcinoma invasivo, quando o tumor se espalha para outras partes do corpo.
A Dra. Francine Hehn, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS, médica patologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e coautora do estudo, destacou que os pólipos demoram, em média, oito anos para chegarem ao estágio de carcinoma. Por isso, em comparação a outros tipos de câncer, que são silenciosos e rápidos, o câncer colorretal pode ser prevenido com maior facilidade.
Atualmente, os pesquisadores do Reino Unido estão desenvolvendo um teste rápido que detecta a colibactina nas fezes das crianças, o que pode auxiliar na diminuição dos casos precoces futuramente.
Na próxima etapa do estudo, os pesquisadores pretendem investigar possíveis fatores geográficos que influenciam no padrão de mutações dos pacientes. Com isso, será possível compreender por que a mutação em um determinado gene é mais frequente em indivíduos de determinados países.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
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Mais Informações
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