
Dra. Debora Luiza Costa Barreto, UFMG
Fungos endofíticos
Fonte
Cristina Tordin, Embrapa Meio Ambiente
Publicação Original
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Resumo
Pesquisadores do Brasil e dos EUA descobriram substâncias com potencial herbicida e antifúngico em um fungo endofítico encontrado em planta medicinal tropical do gênero Piper do Parque Estadual da Floresta do Rio Doce (MG).
Extrato do fungo foi submetido a bioensaio e três metabólitos foram isolados: anidrofusarubina (potencial antimicrobiano e antibacteriano), javanicina (atividade antimicrobiana) e o chamado composto ‘2’, uma substância inédita na literatura científica.
Os compostos inibiram totalmente a germinação de sementes de plantas daninhas indesejadas e o metabólito ‘2’ destacou-se com zonas de inibição mais amplas do que as de fungicidas naturais usados como referência.
Os resultados iniciais abrem caminho para pesquisas mais aplicadas, incluindo a avaliação do desempenho dos compostos em condições de campo e sua integração em formulações comerciais, o que pode levar a soluções inovadoras para a agricultura.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Os pesticidas sintéticos vêm sendo utilizados desde a década de 1940 para proteger lavouras contra ervas daninhas, insetos e fungos.
Como resultado, houve um aumento da produtividade agrícola, mas também o surgimento de problemas ambientais, intoxicações humanas e desequilíbrios ecológicos.
Atualmente, o setor agrícola enfrenta um dilema: manter a produção suficiente para alimentar quase 10 bilhões de pessoas até 2050, mas com menos impacto ambiental e maior eficiência no uso de recursos.
Estudo
Uma equipe formada por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Embrapa Meio Ambiente identificou substâncias com potencial herbicida e antifúngico em um fungo endofítico. O microrganismo, que vive nos tecidos vegetais, foi encontrado em uma planta medicinal tropical do gênero Piper.
Uma das substâncias identificadas é inédita na literatura científica – batizada pelos cientistas como composto ‘2’ (5,10-di-hidroxi-1,7-dimetoxi-3-metil-1H-benzo[g]isocromeno-6,9-diona) – e apresentou desempenho comparável ou superior a alguns pesticidas sintéticos já comercializados.
O estudo, publicado na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, representa o primeiro registro da atividade biológica dessa substância, ampliando o leque de moléculas naturais que podem ser exploradas para o desenvolvimento de defensivos agrícolas alternativos aos pesticidas sintéticos.
Entre os microrganismos endófitos isolados, destacou-se um fungo identificado como Fusarium sp. UFMGCB 15449. O gênero Fusarium, pertencente à família Nectriaceae, é um dos mais presentes no planeta, com mais de 70 espécies descritas.
Amplamente encontrado no solo, em plantas e em substratos orgânicos, o grupo é conhecido tanto por sua capacidade de causar doenças em culturas agrícolas quanto por produzir substâncias de interesse biotecnológico.
De acordo com a Dra. Debora Luiza Costa Barreto, pesquisadora da UFMG, algumas espécies de Fusarium são reconhecidas como importantes produtoras de micotoxinas, capazes de interferir no sistema imunológico de plantas e animais. Ao mesmo tempo, pesquisas anteriores já haviam registrado a ação antimicrobiana de endófitos desse gênero em cafeeiros e em espécies medicinais como a Dioscorea zingiberensis.
O fungo estudado, coletado no Parque Estadual da Floresta do Rio Doce (MG), em julho de 2017 e armazenado na Coleção de Microrganismos e Células da UFMG, foi identificado a partir de técnicas avançadas de biologia molecular, incluindo análise de sequências de DNA e comparação com dados depositados no banco de dados GenBank.
Esses microrganismos endofíticos são um reservatório promissor e ainda pouco explorado de metabólitos bioativos, capazes de gerar soluções inovadoras para a agricultura
Resultados
O extrato do fungo foi submetido a um bioensaio em sementes de alface (Lactuca sativa) e grama-de-bent (Agrostis stolonifera), modelos vegetais comuns em estudos de herbicidas. Três metabólitos foram isolados: anidrofusarubina (potencial antimicrobiano e antibacteriano), javanicina (atividade antimicrobiana) e o composto ‘2’.
Em concentrações de 1 mg/mL, todos os compostos mostraram atividade fitotóxica (adversa ao desenvolvimento das plantas) significativa, inibindo totalmente a germinação das sementes de plantas daninhas indesejadas, um efeito comparável ao herbicida sintético acifluorfeno na mesma dosagem.
Ensaios adicionais com lentilha-d’água (Lemna), espécie frequentemente usada pela indústria de pesticidas para medir toxicidade, confirmaram o potencial. Os compostos apresentaram valores de IC50 (concentração necessária para reduzir o crescimento em 50%) bem inferiores aos de herbicidas amplamente utilizados, como glifosato e clomazona.
Para a Dra. Sonia Queiroz, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, em relação à atividade antifúngica, os testes contra o patógeno agrícola Colletotrichum fragariae também foram animadores. O metabólito ‘2’ destacou-se com zonas de inibição mais amplas do que as de fungicidas naturais usados como referência, como o carvacrol e o timol.
Os resultados iniciais abrem caminho para pesquisas mais aplicadas, incluindo a avaliação do desempenho dos compostos em condições de campo e sua integração em formulações comerciais. Também há interesse em explorar o fenômeno de hormese observado nos testes, em que doses baixas estimularam o crescimento vegetal, indicando potencial para usos diferenciados.
Os pesquisadores destacaram que ainda são necessários estudos sobre os alvos moleculares dos metabólitos, análises de segurança ambiental e toxicológica, além da possibilidade de modificar estruturalmente as moléculas para aumentar sua eficácia.
Estamos diante de uma fronteira científica em que microrganismos invisíveis podem se transformar em aliados estratégicos da agricultura
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Anais da Academia Brasileira de Ciências (em inglês).
Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Embrapa Meio Ambiente.
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