
Fonte
Arthur Santos e Rita Stella, Jornal da USP
Publicação Original
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Resumo
Uma pesquisa realizada com gestantes frequentadoras de unidades públicas de saúde de Ribeirão Preto destacou a quantidade significativa de participantes que apresentaram consumo inadequado de iodo, para mais ou para menos: 38% das gestantes apresentaram ingestão insuficiente do mineral, enquanto 28% tiveram consumo acima do recomendado.
Entre as causas da ingestão inadequada do iodo, foi identificado o consumo de álcool na gestação, o uso de temperos industrializados como fonte alternativa ao sal de cozinha e a forma inadequada de armazenamento do sal como fatores de risco para a concentração insuficiente de iodo urinário.
Os pesquisadores recomendam que mais campanhas de conscientização sobre a importância do sal iodado e de manutenção de hábitos saudáveis durante a gravidez sejam implementadas, evitando também o consumo excessivo de sal e de temperos industrializados.
Foco do Estudo
Por que é importante?
O iodo atua na formação dos hormônios da tireoide, fundamentais para o desenvolvimento do sistema nervoso do bebê. Como a dieta é a principal fonte do iodo, os fatores alimentares e ambientais influenciam, já que a quantidade desse nutriente nos alimentos pode variar bastante, inclusive dentro de uma mesma região, devido a influências do clima e das condições geográficas.
A concentração de iodo nos alimentos está relacionada a diversos aspectos, como a presença do mineral no solo, o uso de fertilizantes, a suplementação na alimentação animal e o emprego de sal iodado.
Peixes, frutos-do-mar e algas são reconhecidos como boas fontes de iodo. No entanto, nem sempre estes alimentos estão disponíveis para grande parte da população. Leite e derivados também são boas fontes de iodo, porém o teor de iodo pode ser impactado por fatores como o manejo das propriedades rurais, o tipo de criação animal, a estação do ano e a quantidade de iodo presente no ambiente.
Risco de aborto, parto prematuro, restrição do crescimento fetal e e alterações na função da tireoide materna e do bebê podem ser alguns dos desfechos causados pelo consumo inadequado de iodo.
Estudo
Pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) identificou que uma parcela significativa das gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade apresenta níveis inadequados de iodo (para mais ou para menos), nutriente essencial para o desenvolvimento saudável do feto.
O estudo foi liderado por Ana Carolina Momentti, doutoranda em Nutrição e Metabolismo pela FMRP-USP à época da pesquisa, que avaliou a ingestão de iodo em 266 gestantes frequentadoras de unidades públicas de saúde de Ribeirão Preto. A pesquisa foi orientada pelo Dr. Anderson Marliere Navarro, professor da Divisão de Nutrição e Metabolismo da FMRP-USP, e também teve a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Durante a gravidez, a necessidade de iodo aumenta em até 50%.O aumento da ingestão de iodo na gestação se justifica uma vez que a insuficiência do mineral intensifica o risco de aborto, parto prematuro, restrição do crescimento fetal, hipotireoidismo materno e fetal, e atraso no desenvolvimento neurológico do bebê. Por outro lado, “o excesso de iodo também está associado ao maior risco de parto prematuro, aborto e alterações na função da tireoide materna e do bebê”, disse a Dra. Ana Momentti, que atualmente é nutricionista no Hospital das Clínicas da FMRP-USP nos setores de UTI e UCI neonatal.
Seria importante melhorar a monitorização e fiscalização da iodação do sal, orientar sobre o armazenamento adequado do sal e considerar a suplementação individualizada para gestantes com deficiência
Resultados
Os resultados, publicados na revista científica Biological Trace Element Research, mostraram que 38% das gestantes apresentaram ingestão insuficiente do mineral, enquanto 28% tiveram consumo acima do recomendado. Apenas em cerca de 34% das gestantes o iodo estava em níveis ideais. As concentrações do nutriente foram analisadas em amostras de urina das gestantes.
O trabalho verificou que gestantes de baixa renda, menor escolaridade e autodeclaradas pretas e pardas são mais propensas a não utilizarem o sal iodado, principal fonte alimentar de iodo. Aquelas com maior número de filhos ou com intervalos curtos entre as gestações também apresentaram maior risco de deficiência devido à alta necessidade de iodo.
Entre as causas da ingestão inadequada do iodo, a Dra. Ana Momentti informou que foi identificado o consumo de álcool na gestação, o uso de temperos industrializados como fonte alternativa ao sal de cozinha e a forma inadequada de armazenamento do sal como fatores de risco para a concentração insuficiente de iodo urinário – análise laboratorial que mede a quantidade de iodo excretada na urina.
A Dra. Ana Momentti explicou que o consumo de álcool aumenta em 6,59 vezes as chances de desenvolver insuficiência de iodo, valor considerado significativo. Já o baixo consumo de sal iodado (20,3%) contra o alto consumo de temperos industrializados (74,3%), seja em adição ou substituição ao sal de cozinha, também explicam as baixas concentrações de iodo entre as gestantes.
Os resultados indicaram que os programas de fortificação do sal precisam ser revisados e reforçados, principalmente para garantir que grupos mais vulneráveis, como as gestantes, tenham acesso adequado ao iodo.
A nutricionista recomenda ainda que mais campanhas de conscientização sobre a importância do sal iodado e de manutenção de hábitos saudáveis durante a gravidez sejam implementadas, evitando também o consumo excessivo de sal e de temperos industrializados.
O estudo reforçou também a importância do acompanhamento nutricional durante o pré-natal, além do destaque à necessidade de políticas públicas mais eficazes para garantir que todas as gestantes recebam a quantidade de iodo necessária para proteger sua saúde e a de seus bebês.
Atualmente, o estudo continua sendo realizado na FMRP-USP com o objetivo de investigar os desfechos perinatais, neonatais e de lactentes das gestantes que participaram do estudo inicial, com até seis meses de vida, e que se encontravam com estado nutricional de iodo indicativo de insuficiência e excesso durante a gestação.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a revista científica Biological Trace Element Research (em inglês).
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