
André Ricoy, Comunicação Butantan
Produzido pelo Instituto Butantan, o soro antibotrópico é utilizado em casos de envenenamento por picada de serpentes do gênero Bothrops
Fonte
Natasha Pinelli, Instituto Butantan
Publicação Original
Áreas
Compartilhar
Resumo
Pesquisadores realizaram uma análise epidemiológica detalhada dos acidentes com serpentes no estado de São Paulo e identificaram as principais áreas de risco.
Os acidentes com jararacas (gênero Bothrops) foram mais frequentes, concentrando-se sobretudo nas regiões sul, sudeste, norte e no litoral paulista. Já as picadas por cascavel apresentaram maior incidência na parte central, nordeste e noroeste do estado.
Embora os óbitos continuem sendo mais frequentes nas zonas rurais, onde o acesso ao atendimento costuma ser mais difícil, 55% dos acidentes foram registrados em áreas urbanas ou periurbanas no estado de São Paulo.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Os acidentes ofídicos representam um problema relevante no Brasil e no mundo. Globalmente, estima-se a ocorrência de aproximadamente 5,4 milhões de acidentes e 137 mil mortes por ano, com a possibilidade de que os números reais sejam ainda maiores.
No Brasil, esses acidentes são registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) desde 1995, mas ganharam maior relevância em 2010, quando foram incluídos na Lista de Notificação Compulsória. Atualmente, os acidentes ofídicos estão entre os agravos mais frequentemente notificados no país.
No estado de São Paulo, há grande diversidade de paisagens naturais e condições climáticas, como as encontradas nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, que abrigam ampla variedade de serpentes. Entre elas, destacam-se as espécies peçonhentas dos gêneros Bothrops, Crotalus e Micrurus, que são as principais causadoras de acidentes ofídicos na região.
Embora, tradicionalmente, os acidentes ocorram com mais frequência em áreas rurais, a incidência nas zonas urbanas tem aumentado, impulsionada pela expansão desordenada das cidades e pelo acúmulo de lixo.
Estudo
Uma pesquisa publicada recentemente na Revista Brasileira de Epidemiologia apresentou uma análise epidemiológica detalhada dos acidentes com serpentes no estado de São Paulo e identificou as principais áreas de risco.
O trabalho, liderado por especialistas do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e do Instituto Butantan, analisou 17.740 acidentes com serpentes peçonhentas notificados no estado entre 2010 e 2022, com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Apesar do estado de São Paulo concentrar grandes áreas urbanas, os acidentes com serpentes configuram um problema relevante na região. A adaptação das serpentes a diferentes tipos de ambientes e o processo de urbanização desordenado, típico das grandes cidades brasileiras, acaba atraindo roedores (presas das cobras) e aumentando as chances de encontro com o animal
Resultados
De acordo com a publicação, os acidentes com jararacas (gênero Bothrops) foram mais frequentes, concentrando-se sobretudo nas regiões sul, sudeste, norte e no litoral paulista. Já as picadas por cascavel apresentaram maior incidência na parte central, nordeste e noroeste do estado. Embora represente pouco mais de 1% dos casos, a coral-verdadeira também exige atenção, uma vez que espécies do gênero foram encontradas em todo o estado paulista.
Quanto ao perfil das vítimas, homens entre 20 e 59 anos foram os mais atingidos, seguindo a tendência do restante do país. A distribuição geográfica, porém, apresentou uma particularidade em São Paulo: embora os óbitos continuem sendo mais frequentes nas zonas rurais, onde o acesso ao atendimento costuma ser mais difícil, 55% dos acidentes foram registrados em áreas urbanas ou periurbanas.
No último ano, o estado de São Paulo registrou 2.133 casos de picadas por serpentes peçonhentas, segundo o Painel Epidemiológico do Ministério da Saúde, figurando na quarta posição do ranking nacional.
O estudo sugere que essa alta incidência pode estar relacionada a um fenômeno chamado de ‘urbanização dos acidentes ofídicos’.
De modo geral, a incidência de picadas por serpentes peçonhentas aumentou durante o verão, com a chegada das altas temperaturas e do período de chuvas intensas, que coincide com a época de nascimento dos filhotes. Além disso, durante os dias de calor, os animais tendem a se movimentar mais, favorecidos pela maior disponibilidade de presas e recursos no ambiente.
Já no inverno, entre os meses de junho e agosto, o estado registrou menos acidentes ofídicos com jararacas e corais-verdadeiras. Contudo, os incidentes com as cascavéis permaneceram estáveis ao longo do ano.
No Brasil, o Instituto Butantan desempenha papel estratégico no enfrentamento do problema, sendo o principal produtor nacional de soros hiperimunes. Apenas em 2024, o Instituto entregou ao Ministério da Saúde mais de 420 mil frascos de antivenenos, fundamentais para o tratamento de pacientes com quadros de envenenamento por serpentes.
Atualmente, a instituição fabrica cinco tipos de antivenenos contra picadas por serpentes: soro antibotrópico (pentavalente), para acidentes com serpentes do gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia); soro antibotrópico (pentavalente) e antilaquético, indicado para picadas de Bothrops (jararaca) ou Lachesis (surucucu-pico-de-jaca); soro anticrotálico, utilizado em casos de envenenamento por Crotalus (cascavel); soro antibotrópico (bivalente) e anticrotálico, eficaz contra picadas de Bothrops (jararaca) e Crotalus (cascavel) e o soro antielapídico (bivalente), destinado ao tratamento de acidentes causados por Micrurus (coral-verdadeira).
O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de São Paulo (CIEVS) disponibiliza um mapa on-line atualizado, com a localização dos hospitais de referência em todo o estado. Os especialistas aconselham salvar o link e mantê-lo facilmente acessível no celular.
Em suas publicações, o Portal SciAdvances tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Portal SciAdvances tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.
Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Revista Brasileira de Epidemiologia (em inglês).
Mais Informações
Acesse o mapa on-line atualizado, com a localização dos hospitais de referência em todo o estado.
Acesse a notícia original completa na página do Instituto Butantan.
Notícias relacionadas
Universidade de Oxford







