
Otis Brawley via National Cancer Institute Visuals Online
Lâmina histológica (coloração H&E x300) mostrando câncer de próstata
Fonte
Sérgio de Sousa, Agência UFC
Publicação Original
Áreas
Resumo
Como resultados de aplicações no campo da nanotecnologia farmacêutica, pesquisadores conseguiram patentes de invenção de tecnologias que prometem melhorar o tratamento de pacientes com câncer de próstata.
A primeira solução tecnológica foi o encapsulamento do fármaco cabazitaxel em lipossomas, que contêem um anticorpo chamado cetuximabe e que faz o papel de direcionar o fármaco para o local do tumor, onde ele será liberado.
Já a segunda solução foi o encapsulamento de ácido betulínico em uma nanoemulsão que usa o óleo da planta Calotropis procera, utilizada na medicina tradicional de várias culturas e facilmente encontrada no semiárido nordestino.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Muitos dos tratamentos existentes atualmente contra o câncer atacam as células cancerosas mas também células saudáveis, o que pode levar a vários efeitos colaterais importantes e limitar a qualidade de vida do paciente.
Neste sentido, soluções medicamentosas que incluam uma liberação direcionada de fármacos apenas para as células doentes, impactando o mínimo possível as células saudáveis, poderia levar a tratamentos mais eficazes e com resultados mais rápidos e melhores.
Estudo
O uso de nanopartículas para tratar o câncer de próstata vem sendo investigado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), e dois desses estudos inovadores acabam de receber cartas-patentes e avançam em busca de uma futura aplicação em seres humanos.
Primeira solução inovadora: fármaco encapsulado em lipossomas
A primeira aplicação buscou um tratamento mais seguro e eficaz para a doença em estágio mais avançado. Os pesquisadores desenvolveram lipossomas, que são pequenas bolsas de gordura biodegradáveis, que podem encapsular substâncias.
Na inovação – um trabalho colaborativo entre pesquisadores da UFC e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – , os pesquisadores encapsularam um fármaco anticâncer chamado cabazitaxel nos lipossomas. Além disso, na superfície dos lipossomas, está ligado um anticorpo chamado de cetuximabe, que faz o papel de direcionar o fármaco para o local do tumor, onde ele será liberado.
O cabazitaxel é um medicamento que é usado em casos de câncer nos quais já ocorreu a metástase, ou seja, as células cancerígenas já se espalharam para além do local de origem do tumor.
Nessas situações, os pacientes já não respondem a tratamentos convencionais. Já o cetuximabe é um anticorpo usado em alguns tipos de câncer, como o colorretal, e age causando a morte da célula tumoral, por meio da inibição de um receptor chamado de EGFR (Receptor do Fator de Crescimento Epidérmico).
Na solução inovadora, o anticorpo leva o lipossoma que carrega o medicamento diretamente para células cancerosas e, lá, o lipossoma libera o fármaco de forma mais inteligente, fazendo com que tecidos sadios recebam menor quantidade do fármaco. Isso pode representar um grande avanço, uma vez que os efeitos do cabazitaxel em células saudáveis são muito severos, podendo causar anemia, náusea, entre outros efeitos colaterais nos pacientes.
Segundo o Dr. Josimar de Oliveira Eloy, professor do Departamento de Farmácia da UFC e um dos autores do invento, os anticorpos possuem maior seletividade, isto é, atuam especificamente em um alvo, fazendo com que, no geral, o tratamento resulte em menos efeitos colaterais aos pacientes.
O professor destacou que a estratégia de associar esse anticorpo a um lipossoma é promissora, pois a referida seletividade permite reduzir a toxicidade dos quimioterápicos.
Segunda solução inovadora: nanoemulsão de substâncias naturais
A segunda solução inovadora utiliza duas substâncias de origem natural no combate ao câncer de próstata, reunidas em uma nanoemulsão, com gotículas na faixa de 20 a 500 nanômetros.
A primeira substância é o ácido betulínico, originada do metabolismo de várias espécies vegetais, especialmente da bétula branca, árvore também chamada de vidoeiro-branco. Diversos estudos já identificaram que o ácido possui efeitos antitumorais significativos contra melanoma, câncer de próstata, câncer de mama, câncer colorretal e câncer de pulmão, contudo, a substância tem baixa solubilidade, o que restringe a sua aplicação e impede sua utilização como medicamento anticâncer.
Para solucionar esse problema, os pesquisadores decidiram encapsular o ácido betulínico em uma nanoemulsão que usa o óleo da Calotropis procera, planta utilizada na medicina tradicional de várias culturas e facilmente encontrada no semiárido nordestino.
As nanopartículas podem ser projetadas para transportar fármacos diretamente para as células tumorais, minimizando a toxicidade nos tecidos saudáveis e aumentando a concentração do medicamento no tumor
Resultados
A primeira solução inovadora já foi testada no tratamento em células saudáveis e com câncer de próstata (in vitro) e em camundongos (in vivo). Os resultados foram “muito positivos e animadores”, afirmou o professor Josimar Eloy. Os resultados foram publicados na revista científica International Journal of Pharmaceutics.
“Nossos estudos in vitro mostraram a maior toxicidade do nanomedicamento para células tumorais. É importante destacar que os estudos em camundongos provaram que a formulação desenvolvida foi mais eficaz que o medicamento comercial. Mas não podemos afirmar que o medicamento ataca apenas as células tumorais. A terapia 100% seletiva não existe”, explicou o professor.
Segundo o pesquisador, ainda são necessários mais estudos para que o tratamento possa ser testado com segurança em pacientes. “O desafio é bastante grande, pois precisamos cumprir outras etapas dentro das boas práticas de laboratório e pesquisa clínica, afinal, precisamos sempre pensar em um estudo seguro aos voluntários”, explicou.
Já no caso da segunda solução inovadora, o Laboratório de Oncologia Experimental da UFC avaliou o efeito citotóxico da fórmula em diversas células tumorais. Foi nas células com câncer de próstata que a formulação apresentou resultados mais promissores.
Mas ainda não se sabe se a eventual terapia levará a melhores resultados quando associada à quimioterapia convencional ou quando utilizada isoladamente. “Espera-se que essas questões sejam respondidas caso a tecnologia desenvolvida avance para as fases de validação e segurança em modelo animal e posteriormente clínica [em humanos]”, adiantou a Dra. Nágila Ricardo, professora do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC e uma das autoras do invento.
A incorporação dos ativos em nanopartículas possibilita o desenvolvimento de abordagens com objetivo de garantir maior segurança e eficácia dos insumos, como a conjugação com moléculas que reconhecem apenas as células tumorais, liberação controlada, aumento do tempo de circulação na corrente sanguínea e redução de doses. Somadas, essas características permitem que os tratamentos apresentem menos efeitos colaterais
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
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