
Fonte
Vanessa Almeida da Silva e Tatiane Alves, Conexão UFRJ
Publicação Original
Áreas
Resumo
Uma parceria internacional envolvendo cientistas brasileiros desenvolveu estudos pré-clínicos e clínicos de fase I para demonstrar a segurança e tolerabilidade de uma nova molécula contra a obesidade.
A substância induz perda de peso através de um mecanismo onde a creatina captura ATP, forma fosfocreatina e depois libera o ATP novamente, mantendo a produção de energia ao mesmo tempo em que gera calor. Isso força o corpo a consumir mais nutrientes, aumentando o gasto calórico total.
Agora, a eficácia do novo fármaco deve ser confirmada com estudos clínicos de fases II e III.
Foco do Estudo
Estudo
Uma nova descoberta científica pode revolucionar o mercado de medicamentos contra a obesidade. Trata-se de uma nova substância capaz de induzir a perda de peso por meio de um mecanismo celular pouco explorado, sem interferir no apetite ou atuar no sistema nervoso central.
Chamado de SANA (salicylate-based nitroalkene), o novo fármaco é um derivado do salicilato, um composto orgânico base para outros medicamentos com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, e consegue favorecer o processo de termogênese – quando o corpo produz calor e aumenta a queima de calorias.
Os cientistas conduziram um estudo pré-clínico em roedores e depois um estudo clínico de fase I A/B randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, realizado com um pequeno grupo de no máximo oito pessoas, dividido em duas partes.
Na primeira parte foram administradas doses únicas crescentes (200-800 mg) em voluntários saudáveis não-obesos; e na segunda parte, foram administradas doses múltiplas crescentes (200-400 mg por dia durante 15 dias) em voluntários saudáveis com sobrepeso ou obesidade. O desfecho primário avaliou a segurança e a tolerabilidade.
A pesquisa foi coordenada pelo Dr. Carlos Escande, pesquisador do Laboratório de Doenças Metabólicas e Envelhecimento do Instituto Pasteur Montevidéu, no Uruguai, e contou com financiamento do próprio Instituto e também da empresa de biotecnologia Eolo Pharma, pioneira em novas abordagens para tratar obesidade e doenças metabólicas.
Além de pesquisadores do Instituto Pasteur Montevidéu, também participaram do estudo colaborativo cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade da República do Uruguai (UDELAR), Centro Universitário Regional del Este e do CENUR Litoral Norte, no Uruguai; da Clínica Mayo, Universidade da Virgínia Ocidental, Universidade de Pittsburgh, Henry Ford Health e da Eolo Pharma, nos EUA; da Universidade de Guelph, no Canadá; da Universidade Aarhus e do Hospital Universitário Aarhus, na Dinamarca; e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Ciências Biológicas da USP (ICB-USP), Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP-USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Brasil.
O estudo foi publicado na revista científica Nature Metabolism.
SANA parece ser um ativador de primeira classe do gasto energético dependente de creatina e da termogênese, destacando seu potencial como um candidato terapêutico para a ‘diabesidade’
Resultados
Nos experimentos pré-clínicos, foi observada uma redução significativa de peso nos animais. A hipótese inicial era de que a substância ativasse o caminho clássico da termogênese, por meio de proteína desacopladora na mitocôndria. Mas testes com inibidores mostraram que o efeito não acontecia por esse caminho.
A partir daí, a equipe investigou outra possibilidade: um mecanismo de reciclagem de creatina, conhecido como ciclo fútil. Nesse processo, a creatina captura ATP, forma fosfocreatina e depois o libera novamente, mantendo a produção de energia ao mesmo tempo em que gera calor. Isso força o corpo a consumir mais nutrientes, aumentando o gasto calórico total.
Nos testes, a substância demonstrou reduzir o peso de roedores mesmo em dietas ricas em gordura, além de reduzir a resistência à insulina e a esteatose hepática.
Em animais, a redução de peso ocorreu em média em oito semanas de tratamento. O estudo clínico de fase 1A/B em humanos confirmou a segurança da substância e apontou redução de peso similar à de medicamentos já aprovados para obesidade.
Ainda assim, os pesquisadores ressaltam que a eficácia só poderá ser confirmada com estudos clínicos de fases II e III.
Os resultados também abrem caminho para estudos sobre doenças metabólicas como o diabetes tipo 2 e a esteatose hepática.
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
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