
Fonte
Ricardo Muniz, Agência FAPESP
Publicação Original
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Resumo
Em animais, pesquisadores conseguiram esclarecer o papel do receptor CXCR3 como sinalizador para que células do sistema imune de todo o corpo consigam ser recrutadas para auxiliar as células da micróglia durante processo de inflamação do hipotálamo, desencadeado por dieta rica em lipídeos consumida regularmente.
Os pesquisadores também observaram que as células imunes ‘auxiliares’ das micróglias são muito diferentes em animais machos e fêmeas. Essa diferença poderia influenciar como indivíduos de sexos distintos reagem à qualidade da dieta e como o sistema imunológico contribui para o ganho de peso e o desenvolvimento de doenças relacionadas.
Foco do Estudo
Estudo
Os cientistas sabem que uma dieta rica em gordura induz resposta inflamatória cerebral, especificamente no hipotálamo. Mas em um estudo recente publicado na revista científica eLife, pesquisadores detalharam como o sistema imune responde a essa inflamação induzida pela dieta hiperlipídica sustentada.
O estudo foi liderado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação.
Quando ocorre a ingestão eventual de gordura em excesso proveniente da dieta, as micróglias – células imunes do sistema nervoso central – agem e controlam o processo de inflamação no hipotálamo. Quando a ingestão elevada de lipídeos é mantida ao longo do tempo, porém, as micróglias não conseguem manter o controle da situação sozinhas. É aí que entram as células imunes de fora do cérebro.
Quando essas células imunes ‘auxiliares’ externas ao cérebro são recrutadas, elas expressam um receptor chamado CXCR3. Essa ação parece ter um papel benéfico, ajudando a atenuar o processo inflamatório cerebral e prevenindo o desenvolvimento da obesidade.
“Descobrimos esse potencial papel anti-inflamatório dessas células por meio de um experimento [em animais] em que bloqueamos o recrutamento [das células imunes de fora do cérebro]”, explicou a Dra. Natália Mendes, pesquisadora do Departamento de Medicina Translacional da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM-Unicamp).
Neste trabalho, estudamos como o cérebro responde a uma alimentação rica em gorduras, típica das dietas modernas ocidentais, nas quais o consumo de fast-foods e ultraprocessados é bastante frequente
Resultados
Nos testes com roedores, foi aplicada uma dieta rica em lipídeos, principalmente gordura saturada, encontrada em alimentos de origem animal, como carnes vermelhas e laticínios, e em alguns alimentos de origem vegetal, como o óleo de coco.
Os pesquisadores verificaram então que os animais em que as células de defesa não conseguiram chegar ao hipotálamo ganharam mais peso, acumularam mais gordura e apresentaram piora de vários marcadores metabólicos e bioquímicos, em comparação com os animais em que este bloqueio não foi aplicado.
O grupo de pesquisa também conseguiu identificar que as células imunes recrutadas são muito diferentes quando comparados animais machos e fêmeas, o que pode influenciar como indivíduos de sexos distintos reagem à qualidade da dieta e como o sistema imunológico contribui para o ganho de peso e o desenvolvimento de doenças relacionadas.
Com os resultados do estudo, os cientistas melhoraram a compreensão sobre o papel das células de defesa, sobre a importância do receptor CXCR3 como um sinalizador para que as células do sistema imune possam chegar até o hipotálamo durante a inflamação e sobre como essas células podem impactar o metabolismo em um contexto de inflamação induzida pela dieta.
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