
Vinicius Soares Braga, Embrapa Amazônia Oriental
Extração do própolis produzido por abelhas-canudo
Fonte
Vinicius Soares Braga, Embrapa Amazônia Oriental
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Resumo
Em um trabalho conjunto entre pesquisadores da Universidade Federal do Pará e da Embrapa Oriental, foi testado in vivo um novo biofármaco na forma de creme para a cicatrização de feridas.
O creme, desenvolvido a partir da própolis produzida pelas abelhas-canudo da Amazônia criadas em ambiente de cultivo de açaí, apresentou alto teor de compostos fenólicos e flavonoides, proporcionando menor resposta inflamatória e regeneração dos tecidos com melhor qualidade em comparação à pomada comercial.
Foco do Estudo
Por que é importante?
A própolis é resultado da combinação de substâncias derivadas de resinas vegetais e pólens, coletadas pelas abelhas no ambiente, combinada à cera que elas próprias produzem.
A própolis já é um produto natural tradicionalmente usado por populações humanas desde a Antiguidade. Segundo um artigo de revisão sobre os aspectos históricos da pesquisa com própolis publicado na revista científica Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine em 2013, os antigos gregos, romanos e egípcios conheciam as propriedades curativas da própolis e a usavam amplamente como medicamento.
Segundo o artigo, a pesquisa sobre a composição química da própolis começou no início do século XX e pesquisadores têm estudado suas propriedades antibacterianas, antissépticas, anti-inflamatórias, antifúngicas, anestésicas e cicatrizantes.
Estudo
Um novo estudo realizado por cientistas da Embrapa Amazônia Oriental e da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificou propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias em um creme formulado com própolis produzida por abelhas sem ferrão nativas da Amazônia.
Os pesquisadores conduziram testes in vivo em feridas induzidas em ratos para determinar o efeito cicatrizante do creme à base de própolis (PR) derivado da abelha sem ferrão da Amazônia da espécie Scaptotrigona aff. Postica (abelha-canudo), criada em monocultura de açaí (Euterpe oleracea).
A abelha-canudo vem sendo estudada pela sua eficiência na polinização do açaizeiro. Os pesquisadores acreditam que o ambiente de cultivo de açaí onde as colmeias foram instaladas contribuiu para dar uniformidade à composição química da própolis.
Os dados do estudo foram obtidos por meio do monitoramento de lesões em 14 ratos Wistar, divididos em três grupos, cada um recebendo tratamentos específicos: com creme à base de própolis, com colagenase e creme neutro. Ao longo de sete dias de tratamento, as lesões foram mensuradas usando registros fotográficos e software específico para avaliar a eficácia da cicatrização com cada creme teste.
Os resultados foram publicados na revista científica Molecules. A pesquisa é fruto de um esforço conjunto de instituições científicas da Região Norte para valorizar produtos naturais da biodiversidade amazônica.
A palmeira do açaí (Euterpe oleracea) é altamente valorizada por suas elevadas concentrações de compostos fenólicos e antocianinas, que possuem significativa capacidade antioxidante
Resultados
As análises químicas realizadas na própolis da abelha-canudo coletada em ambiente de cultivo de açaí apresentaram uma boa concentração de compostos bioativos, reconhecidos pelo papel importante na promoção e manutenção da saúde humana.
Após sete dias, os pesquisadores realizaram análises histopatológicas das lesões induzidas e observaram que a colagenase e o creme teste não diferiram significativamente em termos de redução do diâmetro da ferida.
No entanto, o creme à base de própolis influenciou diretamente o processo de maturação da lesão, com resultados comparáveis aos da pomada cicatrizante disponível no mercado.
Além da eficácia na recuperação dos ferimentos, o creme à base de própolis se destacou por apresentar menor resposta inflamatória e regeneração dos tecidos com melhor qualidade em comparação à pomada comercial.
A presença de compostos fenólicos, por exemplo, excederam em mais de 20 vezes a quantidade mínima estabelecida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para determinar a qualidade da própolis. Já a classe dos flavonoides superou em quase quatro vezes o índice mínimo estabelecido pela mesma regulamentação.
Na análise macroscópica, a olho nu, tanto o creme à base de própolis da abelha-canudo quanto a pomada de uso comercial tiveram desempenho semelhante, diminuindo o tamanho do ferimento. Mas ao analisar com microscópio os tecidos, os pesquisadores encontraram diferenças significativas.
“Observamos uma recuperação mais rápida de fibras colágenas tipo 1 e tipo 3 e na redução da inflamação no tratamento envolvendo a própolis”, afirmou o Dr. Nilton Muto, professor da UFPA. Ele explicou que essas fibras são importantes porque fornecem suporte ao tecido que está regenerando, enquanto um menor processo inflamatório também facilita a cicatrização.
Essas vantagens verificadas pelos pesquisadores são atribuídas à presença dos compostos bioativos encontrados na própolis da abelha-canudo.
Até o momento nenhum creme à base de própolis com origem em cultivo de açaí havia sido descrito. Um biofármaco assim também oferece como benefício menor possibilidade de efeitos colaterais, nível reduzido de resíduos químicos e quantidade mínima de conservantes.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Molecules (em inglês).
Mais Informações
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