
Divulgação, AIST
Coleta de testemunhos de sedimentos marinhos a partir do quebra-gelo Shirase durante a 61ª Expedição Japonesa de Pesquisa Antártica (2019–2020).
Fonte
Universidade Hokkaido
Publicação Original
Áreas
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Resumo
Uma equipe interdisciplinar e internacional de pesquisadores usou técnicas analíticas para compreender os mecanismos envolvidos na perda de gelo em larga escala da Calota de Gelo da Antártica Oriental (EAIS), há cerca de 9.000 anos.
A equipe de pesquisa analisou testemunho de sedimentos marinhos coletados na Baía de Lützow-Holm, localizada ao longo da Costa de Sôya, no Japão, e modelagem oceano-clima para mostrar que o derretimento do gelo de outras regiões da Antártica fortaleceu o fluxo de água quente profunda, acelerando o colapso das plataformas de gelo e o afinamento do gelo continental.
A descoberta destacou como o derretimento do gelo antártico pode se autoalimentar sob o aquecimento global em curso.
Foco do Estudo
Por que é importante?
A Calota Polar da Antártica Oriental, que contém mais da metade da água doce do mundo, está atualmente sofrendo perda de massa em certas regiões costeiras.
É imprescindível compreender a maneira como as calotas polares substanciais responderam a períodos anteriores de aquecimento climático, pois isso fornece informações indispensáveis sobre sua estabilidade no contexto do atual fenômeno do aquecimento global.
Estudo
Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que a perda de gelo em larga escala da Calota de Gelo da Antártica Oriental (EAIS), há cerca de 9.000 anos, foi amplificada por um ‘efeito cascata de realimentação positiva’ – quando a ocorrência de um evento intensifica a ocorrência de outro efeito indesejável – entre o derretimento do gelo e a circulação oceânica.
Esse ciclo de realimentação pode ser um fator crucial para a compreensão da instabilidade das calotas polares antárticas, tanto no passado quanto no presente.
A equipe de pesquisa, liderada pelo Dr. Yusuke Suganuma, professor do Instituto Nacional de Pesquisa Polar (NIPR) e da Universidade de Pós-Graduação em Estudos Avançados (SOKENDAI), descobriu que o fluxo de água quente profunda para a costa da Antártica Oriental causou o colapso das plataformas de gelo, o que, por sua vez, acelerou a perda de gelo continental.
A descoberta indicou que o recuo do gelo antártico não é meramente um fenômeno regional: pelo contrário, tem o potencial de se propagar por múltiplos setores através de conexões oceânicas, amplificando assim a magnitude geral da perda de gelo.
O esforço interdisciplinar envolveu a integração de levantamentos geológicos de campo, análises de testemunhos de sedimentos marinhos, datação por exposição a nuclídeos cosmogênicos e modelagem acoplada clima-oceano para alcançar uma reconstrução abrangente do sistema de gelo-oceano na Antártica Oriental. Os testemunhos de sedimentos foram obtidos por meio de diversas Expedições Japonesas de Pesquisa Antártica (JARE) entre 1980 e 2023, incluindo amostras recentes coletadas pelo quebra-gelo Shirase.
Utilizando uma variedade de técnicas analíticas, incluindo análises sedimentológicas, micropaleontológicas e geoquímicas, os pesquisadores conseguiram reconstruir as mudanças ambientais passadas na baía e em seus arredores. Essa reconstrução foi facilitada pelo uso de medições das razões isotópicas de berílio (¹⁰Be/⁹Be).
A pesquisa, publicada na revista científica Nature Geoscience, envolveu a colaboração de mais de 30 instituições, incluindo a Universidade de Tóquio, a Universidade Kochi e a Universidade Hokkaido, no Japão, e parceiros internacionais da Nova Zelândia, Espanha e outros países.
Juntamente com a elevação relativa do nível do mar, esse ciclo de retroalimentação da água de degelo desencadeia maior instabilidade nas plataformas de gelo e intensifica a descarga dinâmica de gelo no interior, destacando um mecanismo relevante para as futuras mudanças na camada de gelo da Antártida
Resultados
Os registros de testemunhos de sedimentos e a modelagem oceano-clima mostraram que o derretimento do gelo de outras regiões da Antártica fortaleceu o fluxo de água quente profunda, acelerando o colapso das plataformas de gelo e o afinamento do gelo continental. A descoberta destacou como o derretimento do gelo antártico pode se autoalimentar sob o aquecimento global em curso.
Os resultados do estudo indicaram que, aproximadamente 9.000 anos atrás, a presença de Água Profunda Circumpolar (CDW) quente se intensificou na baía, resultando no colapso das plataformas de gelo flutuantes. Com a desintegração das plataformas de gelo, elas perderam seu efeito de sustentação, fazendo com que o gelo continental fluísse mais rapidamente em direção ao oceano.
Para compreender os fatores que precipitaram o aumento do influxo de água quente profunda, a equipe de pesquisa realizou simulações de modelos climáticos e oceânicos de alta resolução. Os modelos demonstraram que a água de degelo proveniente de outras regiões da Antártica se disseminou por todo o Oceano Antártico.
A existência desse mecanismo em cascata sugere que o derretimento em um setor da Antártica pode desencadear ou acelerar o derretimento em outro setor por meio de teleconexões oceânicas.
O estudo fornece uma das evidências mais claras até o momento de que a camada de gelo da Antártica pode ser suscetível a um derretimento generalizado e autoalimentado em resposta ao aquecimento climático natural.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Nature Geoscience (em inglês).
Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Universidade Hokkaido (em inglês).
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