
Fonte
Marina Verjovsky, FAPERJ
Publicação Original
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Resumo
Pesquisadores da UERJ testaram, em camundongos alimentados com dieta gordurosa, os efeitos do consumo de extrato de caroço de açaí, comparando os resultados com animais que não receberam tratamento e com outros que receberam metformina.
Em termos de ação antiobesidade, o extrato de caroço de açaí levou a resultados parecidos com os resultados alcançados pela administração de metformina, apesar de os mecanismos de ação serem diferentes.
Agora, mais estudos são necessários para validar o uso medicinal do extrato e melhorar a compreensão sobre como o composto é distribuído, absorvido e excretado pelo corpo humano.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Considerado um superalimento pelos seus benefícios nutricionais e com consumo em alta, o açaí tem gerado milhares de toneladas de caroços – e seu descarte correto ainda é um desafio no Brasil, principal produtor no mundo.
Porém, em vez de ser descartado, o caroço do açaí – que é rico em antioxidantes – poderia ter aplicações importantes, inclusive para a saúde.
Estudo
Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) mostrou que o caroço do açaí, que é um descarte agrícola, gera um extrato rico em compostos antioxidantes – os polifenóis –, com grande potencial no combate à obesidade e suas complicações.
O estudo fez parte do doutorado de Bernardo Junqueira Arnoso e foi publicado na revista científica Molecular and Cellular Endocrinology. A pesquisa, apoiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), foi orientada pela Dra. Cristiane Aguiar da Costa, professora do Instituto de Biologia da UERJ.
Os experimentos foram feitos em camundongos alimentados com uma dieta extremamente gordurosa, que simula as condições de obesidade e alterações metabólicas em humanos.
Para o estudo, os animais foram divididos em quatro grupos: um grupo controle, com dieta normal; um grupo que recebeu dieta gordurosa; um terceiro grupo que, além da dieta gordurosa, foi tratado com o extrato; e o quarto grupo, que foi tratado com metformina. Após 10 semanas de dieta, os tratamentos se prolongaram por mais quatro semanas.
Já trabalhamos com esse extrato desde 2007, em diferentes modelos experimentais de obesidade, diabetes e hipertensão, e nossos estudos pré-clínicos têm demonstrado que ele é bastante promissor no tratamento da obesidade
Resultados
Os resultados da pesquisa mostraram que o caroço do açaí apresenta resultados semelhantes à metformina, um medicamento amplamente utilizado para tratar o diabetes, mas que atua por mecanismos diferentes.
A dieta gordurosa causou danos no intestino dos animais, incluindo inflamação, estresse oxidativo, redução da capacidade de absorção de nutrientes e alterações na produção de muco protetor.
Ambos os tratamentos [com o extrato e com metformina] ajudaram a reparar esses danos, embora o extrato de caroço de açaí tenha sido mais eficaz em reduzir a inflamação, enquanto a metformina teve melhor desempenho na restauração das proteínas que mantêm o desempenho da barreira intestinal.
Os dois tratamentos ajudaram a restaurar um equilíbrio mais saudável da microbiota intestinal. No entanto, o extrato de caroço de açaí aumentou substâncias benéficas – como os ácidos graxos de cadeia curta – que são importantes para a saúde intestinal e metabólica.
No hipotálamo, a dieta rica em gordura alterou a expressão de genes relacionados à fome e ao metabolismo. O extrato de caroço de açaí e a metformina corrigiram parcialmente essas mudanças, embora tenham agido de maneiras diferentes: a metformina aumentou a sensibilidade ao hormônio leptina, que regula o apetite, enquanto o extrato elevou os níveis de outros sinais que influenciam a ingestão alimentar.
Para completar, tanto os grupos tratados com o extrato quanto com a metformina tiveram redução significativa no peso corporal e melhora nos níveis de glicemia. O extrato se mostrou ainda mais eficaz em reduzir a glicemia de jejum, um importante marcador de controle metabólico.
Apesar dos bons resultados, a professora Claudia da Costa destacou que, para uso medicinal do extrato, ainda são necessários mais estudos para entender como o composto é distribuído, absorvido e excretado pelo corpo.
Essa continuação dos estudos é importante para determinar dosagens adequadas e avaliar contraindicações caso sobrecarregue algum órgão, como rins ou fígado. “Ainda temos poucos dados desse tipo, como a dosagem de polifenóis no plasma e no leite materno, mas pretendemos ampliá-los e já temos parcerias para começar estudos com humanos em breve”, concluiu a pesquisadora.
Esses efeitos são inéditos e importantes, tornando esse produto com grande potencial terapêutico. Com certeza [o processo de produção do extrato] pode ser aplicado em grande escala e [também] contribuiria para a diminuição do descarte de caroços no ambiente, minimizando o impacto ambiental
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
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Acesse a revista científica Molecular and Cellular Endocrinology (em inglês).
Mais Informações
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