
Fonte
Julie Gazaille, Universidade de Montreal
Publicação Original
Áreas
Resumo
Em um estudo realizado no Centro de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono da Universidade de Montreal, no Canadá, pesquisadores analisaram os resultados de eletroencefalografias de 40 adultos saudáveis durante o sono. Alguns participantes consumiram cafeína antes de dormir, enquanto outros consumiram apenas placebo.
Os resultados demonstraram, pela primeira vez, que a cafeína aumenta a complexidade dos sinais cerebrais e aumenta a ‘criticidade’ cerebral durante o sono.
O estudo também mostrou que os efeitos da cafeína na dinâmica cerebral foram mais intensos em jovens adultos entre 20 e 27 anos, em comparação com participantes de meia-idade entre 41 e 58 anos, especialmente durante o sono REM, a fase associada aos sonhos.
Com mais pesquisas, poderia ser possível orientar sobre o consumo personalizado de cafeína, principalmente antes de dormir, a fim de preservar a saúde mental e cognitiva.
Foco do Estudo
Por que é importante?
A cafeína – encontrada no café, chás, chocolates, bebidas energéticas e muitos refrigerantes, é uma das substâncias psicoativas mais consumidas no mundo.
Já o sono afeta a memória, a concentração, a regulação emocional e a função cerebral das pessoas, desempenhando um papel fundamental sobre a saúde mental e cognitiva.
Neste sentido, é importante compreender melhor como o consumo de cafeína afeta a atividade cerebral durante o sono, para futuramente poder definir recomendações personalizadas do consumo de cafeína, principalmente antes de dormir.
Estudo
Em um estudo publicado na revista científica Nature Communications Biology, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, conseguiu explicar melhor como a cafeína pode modificar o sono e influenciar a recuperação do cérebro tanto física quanto cognitivamente.
A pesquisa foi liderada pelo Dr. Philipp Thölke, pesquisador no Laboratório de Neurociência Cognitiva e Computacional da Universidade de Montreal, e também pelo Dr. Karim Jerbi, diretor do laboratório e professor de Psicologia da universidade.
Em conjunto com a Dra. Julie Carrier, professora de psicologia do sono e do envelhecimento, e sua equipe no Centro de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono da Universidade de Montreal, os cientistas usaram Inteligência Artificial (IA) e eletroencefalografia (EEG) para estudar o efeito da cafeína sobre o cérebro durante o sono.
Para estudar como a cafeína afeta o cérebro durante o sono, a equipe da professora Julie Carrier registrou a atividade cerebral noturna de 40 adultos saudáveis por meio de eletroencefalograma.
Os cientistas compararam a atividade cerebral de cada participante em duas noites distintas — uma quando consumiram cápsulas de cafeína três horas antes de dormir e depois uma hora antes de dormir, e outra quando consumiram placebo nos mesmos horários.
Usamos análise estatística avançada e inteligência artificial para identificar mudanças sutis na atividade neuronal
Resultados
Os pesquisadores demonstraram, pela primeira vez que a cafeína aumenta a complexidade dos sinais cerebrais e aumenta a ‘criticidade’ cerebral durante o sono.
“A criticidade descreve um estado do cérebro que se equilibra entre a ordem e o caos. Nesse estado, o cérebro funciona de forma otimizada: consegue processar informações com eficiência, adaptar-se rapidamente, aprender e tomar decisões com agilidade”, explicou o professor Jerbi.
“A cafeína estimula o cérebro e o leva a um estado de criticidade, onde ele fica mais desperto, alerta e reativo. Embora isso seja útil durante o dia para a concentração, esse estado pode interferir no descanso à noite: o cérebro não relaxa nem se recupera adequadamente”, destacou a professora Julie Carrier.
Os pesquisadores também descobriram mudanças marcantes nos ritmos elétricos do cérebro durante o sono: a cafeína atenuou oscilações mais lentas, como as ondas delta — geralmente associadas ao sono profundo e restaurador — e estimulou a atividade das ondas beta, mais comuns durante a vigília.
Complementarmente, o estudo mostrou que os efeitos da cafeína na dinâmica cerebral foram significativamente mais pronunciados em jovens adultos entre 20 e 27 anos, em comparação com participantes de meia-idade entre 41 e 58 anos, especialmente durante o sono REM, a fase associada aos sonhos.
Essas diferenças relacionadas à idade sugerem que cérebros mais jovens podem ser mais suscetíveis aos efeitos estimulantes da cafeína.
Os pesquisadores destacaram que mais pesquisas são necessárias para esclarecer como essas mudanças neurais afetam a saúde cognitiva e potencialmente orientar recomendações personalizadas para a ingestão de cafeína.
[Mudanças nos ritmos elétricos do cérebro] sugerem que, mesmo durante o sono, o cérebro permanece em um estado mais ativado e menos restaurador sob a influência da cafeína. Essa mudança na atividade rítmica do cérebro pode ajudar a explicar por que a cafeína afeta a eficiência com que o cérebro se recupera durante a noite, com potenciais consequências para o processamento da memória
Em suas publicações, o Portal SciAdvances tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Portal SciAdvances tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.
Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Nature Communications Biology (em inglês).
Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Universidade de Montreal (em inglês).
Notícias relacionadas

Universidade Técnica de Munique

Instituto de Ciência de Tóquio
Universidade de Basileia