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Luciana Constantino, Agência FAPESP
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Resumo
Pesquisadores da USP em São Carlos desenvolveram um biossensor portátil e de baixo custo capaz de identificar de forma rápida uma proteína cujos níveis alterados estão associados a transtornos psiquiátricos, como depressão, esquizofrenia e bipolaridade.
O biossensor, que tem um custo estimado de R$ 12,00, conseguiu medir em menos de três minutos e de forma confiável concentrações extremamente baixas da proteína mesmo em quantidades mínimas de saliva.
Os pesquisadores destacaram que o biossensor pode ser otimizado para atender a diferentes perfis, podendo ser mais uma das ferramentas da medicina personalizada.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais – ansiedade e depressão são as condições mais prevalentes.
De acordo com relatórios da organização, incluindo o Atlas da Saúde Mental 2024, houve um aumento da prevalência desses transtornos em todos os países, afetando pessoas de todas as faixas etárias.
No Brasil, os afastamentos de trabalhadores por problemas de saúde mental cresceram quase 135% entre 2022 e 2024: passaram de 201 mil para 472 mil, sendo provocados por episódios depressivos, ansiedade e depressão recorrente, segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho.
Estudo
A BNDF (Brain-Derived Neurotrophic Factor) é uma proteína que atua no crescimento e na manutenção dos neurônios e é crucial no desenvolvimento de funções cerebrais, entre elas aprendizagem e memória.
A literatura científica indica que concentrações alteradas de BDNF podem estar associadas a distúrbios neurológicos e psiquiátricos, como depressão, esquizofrenia e bipolaridade.
Até agora, as técnicas utilizadas para análise dos níveis de BDNF incluem ensaio imunoenzimático (ELISA), eletroquimioluminescência, fluorescência e cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), que demandam tempo, grandes volumes de amostra e laboratórios especializados.
Agora, pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos e do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com colegas da Embrapa Instrumentação, desenvolveram um biossensor portátil e de baixo custo capaz de identificar de forma rápida uma proteína cujos níveis alterados estão associados a transtornos psiquiátricos, como depressão, esquizofrenia e bipolaridade.
O biossensor consiste em uma tira flexível com eletrodos que, integrada a um analisador portátil, avalia gotas de saliva humana e fornece, em menos de três minutos, a concentração de BDNF.
O estudo foi publicado na revista científica ACS Polymers Au.
Existem poucos sensores que fazem esse tipo de análise e o nosso foi o que apresentou melhor desempenho. Detectou uma ampla faixa de concentração, resultado que é muito bom do ponto de vista clínico. Quando o nível da proteína está muito baixo, pode servir de alerta para doenças e transtornos psiquiátricos. Por outro lado, ao ser capaz de sinalizar aumento de BDNF, contribui como uma ferramenta para monitorar a evolução do paciente de acordo com o tratamento
Resultados
Os pesquisadores desenvolveram uma tira flexível serigrafada em um suporte de filme de poliéster com eletrodos – um eletrodo de trabalho funcionalizado, um auxiliar de carbono puro e um de referência de prata.
A detecção da proteína BDNF é feita a partir da formação de imunocomplexos anticorpo-antígeno, o que aumenta a resistência à transferência eletrônica na superfície sensora. Esse crescimento é capturado por uma técnica chamada espectroscopia de impedância eletroquímica, usada para estudar processos que acontecem na interface entre um eletrodo e uma solução.
Os resultados podem ser exibidos em tempo real em um dispositivo móvel (smartphone) por meio de comunicação sem fio (bluetooth).
Os pesquisadores destacaram que o dispositivo conseguiu medir de forma confiável concentrações extremamente baixas da proteína mesmo em quantidades mínimas de saliva. Com capacidade de armazenamento de longo prazo, o biossensor tem custo estimado de US$ 2,19 a unidade (menos de R$ 12,00).
“Estamos caminhando para uma personalização da medicina em que os tratamentos serão cada vez mais direcionados a cada indivíduo. No caso do biossensor, ele pode ser otimizado para atender a diferentes perfis”, concluiu o Dr. Paulo Augusto Raymundo Pereira, pesquisador do IFSC-USP e coautor do estudo.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica ACS Polymers Au (em inglês).
Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Agência FAPESP.
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