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Hospital Universitário de Berna (Inselspital) e Universidade de Berna
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Resumo
Em um resultado inédito alcançado em modelo animal, pesquisadores conseguiram atuar sobre a causa da Síndrome do QT Curto Tipo 1 (SQTC1) através de uma nova terapia genética. A SQTC1 é uma doença cardíaca genética rara e está associada a um alto risco de arritmias cardíacas potencialmente fatais.
Atuando especificamente no coração, a nova abordagem injeta a terapia genética diretamente nas artérias coronárias através da aorta, onde é transportada por meio do vírus AAV9, que infecta preferencialmente as células do músculo cardíaco.
A abordagem suprime simultaneamente o gene KCNH2 defeituoso e o substitui por uma cópia saudável e se mostrou capaz de corrigir completamente as características típicas da doença no modelo animal com SQTC1.
Foco do Estudo
Por que é importante?
A Síndrome do QT Curto Tipo 1 (SQTC1) é uma doença cardíaca genética rara e potencialmente letal, associada a um alto risco de arritmias cardíacas potencialmente fatais. Os pacientes afetados frequentemente apresentam taquicardia ventricular e fibrilação, que podem levar à morte súbita cardíaca.
Essas arritmias costumam ocorrer já na infância ou no início da idade adulta, e frequentemente em pessoas que antes pareciam completamente saudáveis.
A doença é causada por alterações no gene KCNH2, que fornece o modelo para um importante canal no coração por onde os sinais elétricos são transmitidos.
Essa alteração genética faz com que a excitação elétrica do músculo cardíaco diminua muito rapidamente. O resultado é um intervalo QT encurtado no eletrocardiograma (ECG).
Até agora, o tratamento da SQT1 tem se limitado a medidas sintomáticas, como a inserção de um desfibrilador, que interrompe as arritmias assim que elas ocorrem, ou a administração de medicamentos como a hidroquinidina.
Ambas as abordagens apresentam desvantagens significativas: enquanto um desfibrilador pode ser psicologicamente estressante para os pacientes e causar complicações como aplicação inadequada de choque, medicamentos como a hidroquinidina são frequentemente associados a efeitos colaterais importantes que podem levar à descontinuação da terapia.
Em todo o mundo, cada vez mais terapias gênicas estão sendo aprovadas para doenças raras. O estudo atual mostra que novos caminhos também estão se abrindo para o tratamento de arritmias cardíacas geneticamente determinadas.
Estudo
Pesquisadores da equipe da Dra. Katja Odening, professora de Cardiologia Translacional na Universidade de Berna, na Suíça, juntamente com a equipe do Dr. Michael Ackerman, médico e professor da Clínica Mayo, nos EUA, conseguiram, pela primeira vez, testar com sucesso uma nova terapia genética em um modelo animal que visa diretamente a causa genética da Síndrome do QT Curto Tipo 1 (SQTC1).
Um dos principais objetivos do grupo de pesquisa era desenvolver a terapia de forma que atuasse da forma mais específica possível no coração, sem causar efeitos indesejados em outros órgãos. Isso foi alcançado por meio do transporte da terapia genética por meio de vírus AAV9, que infectam preferencialmente as células do músculo cardíaco. Interruptores genéticos também garantiram que o gene introduzido fosse ativo apenas nas células do músculo cardíaco.
Por fim, a terapia genética foi injetada diretamente nas artérias coronárias através da aorta, de forma semelhante ao procedimento utilizado para um cateterismo cardíaco em um hospital. Dessa forma, foi possível obter um resultado diretamente no coração. Essa combinação permitiu uma implementação direcionada e eficiente da terapia, sem efeitos colaterais sistêmicos.
O estudo foi publicado na revista científica European Heart Journal.
Este estudo pré-clínico foi o primeiro a aplicar com sucesso a terapia genética no tratamento da síndrome do QT curto. Essa abordagem nos permite, pela primeira vez, atingir diretamente a causa genética da doença, que até agora só podia ser tratada sintomaticamente
Resultados
A nova abordagem suprime simultaneamente o gene KCNH2 defeituoso e o substitui por uma cópia saudável. A chamada ‘estratégia dupla KCNH2 SupRep’ (descoberta e patenteada pela Clínica Mayo) foi capaz de corrigir completamente as características típicas da doença no modelo animal com SQTC1: o intervalo QT encurtado no ECG foi normalizado, a recuperação elétrica do coração foi restaurada e o risco de arritmias com risco de vida também foi significativamente reduzido. Da mesma forma, em nível celular, as correntes iônicas e a interação entre os sinais elétricos e os batimentos cardíacos foram normalizadas.
Mutações no gene KCNH2, que foi substituído na terapia gênica, não são apenas o substrato genético para a SQTC1, mas também podem causar a chamada Síndrome do QT Longo Tipo 2 (SQTL2).
“Essa condição é consideravelmente mais comum e, como a SQTC1, está associada a um alto risco de morte súbita cardíaca”, acrescentou a Dra. Katja Odening. “Portanto, essa abordagem promissora pode abrir novas perspectivas terapêuticas não apenas para um número muito pequeno de pacientes afetados pela SQTC1, mas potencialmente para centenas de pacientes com SQTL2”, continuou.
Ao mesmo tempo, a Dra. Katja Odening expressou uma nota de cautela científica: “Somente por meio de mais pesquisas pré-clínicas e estudos clínicos, a transposição de modelos animais para o tratamento de pacientes poderá ser alcançada”.
Antes que a terapia genética possa começar a ser usada em pacientes, estudos adicionais devem confirmar sua segurança, descartar possíveis efeitos colaterais em outros sistemas orgânicos e demonstrar sua eficácia em longo prazo ao longo de vários anos – idealmente após apenas uma única dose.
Essas são as questões que a equipe de pesquisa está investigando agora, enquanto, ao mesmo tempo, testa a terapia genética também em modelo animal de SQTL2.
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Autores/Pesquisadores Citados
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Acesse a noticia original completa na página da Universidade de Berna (m inglês).
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