
NIAID/NIH via Wikimedia Commons
Imagem de microscópio eletrônico de transmissão do vírus Zika (em vermelho), isolado de caso de microcefalia no Brasil
Fonte
Victória Alvineiro (Cidacs/Fiocruz Bahia)
Publicação Original
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Resumo
Com a Emergência em Saúde Pública iniciada pelos casos de microcefalia que ocorreram em 2015, um novo cenário onde as crianças sobreviventes e portadoras da Síndrome Congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ) precisam de cuidados chamou a atenção de uma equipe de pesquisadores para compreender melhor o que acontece atualmente.
Com a liderança da Fiocruz Bahia, o estudo comparou 2 mil casos de crianças com SCZ com quase 2,6 milhões de casos de crianças sem a síndrome.
Crianças com SCZ apresentaram taxas de hospitalização entre 3 e 7 vezes maiores do que crianças sem a síndrome e ficaram internadas por períodos consideravelmente mais longos em comparação às crianças sem a síndrome nos primeiros quatro anos de vida.
Os resultados apontam para a urgência em elaborar planos de cuidado estruturados, com foco no manejo ambulatorial das crianças com SCZ.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Segundo o Ministério da Saúde, a Síndrome Congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ) compreende um conjunto de anomalias congênitas que podem incluir alterações visuais, auditivas e neuropsicomotoras que ocorrem em indivíduos (embriões ou fetos) expostos à infecção pelo vírus Zika durante a gestação.
A síndrome foi descoberta em 2015, devido à alteração do padrão de ocorrência de microcefalia em nascidos vivos no Brasil. Na época, o evento foi considerado uma Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e posteriormente Internacional (ESPII).
O Brasil tem atualmente cerca de 20 mil casos suspeitos de SCZ e o maior número de casos de crianças com SCZ está no Nordeste, tipicamente em famílias com baixa renda e dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Por se manifestar principalmente em países pobres e em populações fragilizadas, a SCZ tem recebido pouca atenção da comunidade científica mundial nos últimos anos.
Estudo
Uma pesquisa do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), publicada na revista científica International Journal of Infectious Disease, mostrou que crianças com SCZ estão mais vulneráveis a complicações graves, doenças combinadas e longos períodos de internação.
O estudo foi desenvolvido em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), no Reino Unido.
João Guilherme Tedde, pesquisador do Cidacs-Fiocruz Bahia e autor principal do estudo, afirmou que a pesquisa é uma das primeiras a avaliar os riscos de hospitalização em pacientes com SCZ ao longo da primeira infância. “Analisamos as principais causas e a frequência das internações, assim como a duração dos períodos hospitalares, para orientar decisões mais eficazes no tratamento das crianças afetadas pela síndrome”, explicou.
O estudo comparou 2 mil casos de crianças com SCZ com quase 2,6 milhões de casos de crianças sem a síndrome. A equipe de pesquisadores avaliou as taxas de admissões, seus principais motivos e a duração das hospitalizações durante os primeiros quatro anos de vida, considerando dados da ‘Coorte de 100 Milhões de Brasileiros’.
Nossos achados apontam para a urgência de elaborar planos de cuidado estruturados, com foco no manejo ambulatorial das crianças com SCZ. O objetivo deve ser otimizar as condições de saúde de base e minimizar os riscos de intercorrências que levem a novas internações
Resultados
A principal conclusão do estudo indica que crianças com SCZ apresentaram taxas de hospitalização entre 3 e 7 vezes maiores do que crianças sem a síndrome.
Além de irem muito mais ao hospital, as crianças com a síndrome analisadas no estudo ficaram internadas por períodos consideravelmente mais longos em comparação às crianças sem a síndrome nos primeiros quatro anos de vida. No grupo com SCZ, as hospitalizações ocorreram em razão de malformações congênitas, doenças neurológicas e causas respiratórias e infecciosas.
Os pesquisadores também identificaram que, enquanto as crianças sem SCZ diminuíram suas taxas de hospitalização de forma progressiva ao longo do tempo, crianças que têm a síndrome mantiveram altas taxas durante todo o período avaliado.
Esse resultado indica que portadores da SCZ estão sob risco prolongado de adoecerem e serem hospitalizados, agravando condições de saúde já existentes, elevando custos e gerando sofrimento adicional às crianças e à sua rede de apoio.
Resultados preliminares de outra pesquisa da mesma equipe apontaram que, para as crianças com a Síndrome, o risco de morte é 30 vezes maior para doenças do sistema respiratório, 28 vezes maior para doenças infecciosas, e 57 vezes maior para doenças do sistema nervoso.
Entre os desafios próximos, os autores destacam a urgência do desenvolvimento de uma vacina que ofereça imunidade duradoura contra o vírus zika.
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Autores/Pesquisadores Citados
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Publicação
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