
Fonte
Cláudia Azevedo e Olga Magalhães, FMUP
Publicação Original
Áreas
Resumo
O estudo clínico transversal VeggieNutri, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em Portugal, apresentou recentemente seus primeiros resultados sobre o acompanhamento de participantes divididos em grupos de dieta onívora, vegetariana e vegana.
Os resultados surpreenderam os pesquisadores, na medida que o grupo vegetariano apresentou aumento da massa gorda e diminuição da massa muscular em relação aos participantes que se alimentaram com dieta onívora. Ao contrário, os veganos, apesar de consumirem menos proteínas, apresentaram mais massa muscular.
Os resultados mostraram a importância do acompanhamento por profissional nutricionista para a definição da suplementação adequada, principalmente de ferro e vitamina B12, em pessoas que se alimentam de dietas restritivas.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Em relação à dieta onívora, que permite o consumo de carnes e vegetais e é a dieta mais comum, as dietas vegetariana e vegana limitam de modo geral o consumo de produtos de origem animal, o que pode ocasionar deficiências de certos micronutrientes.
Nestas dietas, pode ser necessária a suplementação de micronutientes para completar a alimentação. Neste caso, uma suplementação desbalanceada pode provocar efeitos adversos principalmente em relação ao aumento de massa gorda e à perda de massa muscular.
Estudo
Foram publicados recentemente, na revista científica Nutrients, os primeiros resultados do VeggieNutri, o primeiro estudo em Portugal a comparar os efeitos da adoção de diferentes dietas na composição corporal e em parâmetros de saúde metabólica.
Os resultados são surpreendentes e fazem soar os alarmes para os riscos do consumo de suplementos alimentares sem aconselhamento de profissionais, lançando alertas às autoridades de saúde.
“Os nossos resultados sugerem uma falta de conhecimento na adoção de alguns padrões alimentares e um livre arbítrio na suplementação com micronutrientes para compensar eventuais déficits nutricionais”, afirmou a Dra. Elisa Keating, professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e coordenadora da investigação.
Realizado na FMUP desde 2022, o estudo VeggieNutri tem como um dos seus objetivos avaliar a qualidade das escolhas alimentares de vegetarianos e não vegetarianos.
Os pesquisadores analisaram características como sexo, idade, estado metabólico e nutricional, bem como os estilos de vida em uma amostra de mais de 420 voluntários saudáveis entre os 18 e os 64 anos de idade, entre participantes onívoros, ovolactovegetarianos e veganos.
[É importante consultar profissionais nutricionistas]. Há muitos mitos sobre alimentação que propagam a desinformação, aumentando, por isso, o risco de efeitos nefastos para a saúde.
Resultados
Os resultados publicados indicam que a dieta vegetariana que inclui ovos, leite e derivados e exclui a carne, pescado e derivados (dieta ovolactovegetariana), está associada a uma maior percentagem de massa gorda (mais 4%) e a uma menor percentagem de massa muscular (menos 2%), quando comparada com a dieta onívora, que inclui produtos de origem vegetal e animal e é a mais comum.
Os resultados foram surpreendentes: “Os resultados não foram de acordo com o que esperávamos. Se houvesse alguma diferença, principalmente na massa muscular, era esperado que fosse nos veganos, que mostraram ter dietas mais restritas em proteínas, e não nos ovolactovegetarianos, que apresentaram menos restrição proteica”, afirmou Cátia Pinheiro, doutoranda na FMUP.
Os cientistas mediram os macronutrientes ingeridos pelos participantes de cada grupo e concluíram que os ovolactovegetarianos ingeriam mais carboidratos, o que pode explicar o aumento da massa gorda. No entanto, este não era o grupo que consumia menos proteínas. Os veganos, apesar de consumirem menos proteínas, apresentaram mais massa muscular.
A conclusão é que os veganos parecem estar mais protegidos contra a perda de massa muscular e que os ovolactovegetarianos estariam mais vulneráveis. A razão parece estar nos suplementos alimentares.
“Níveis de ingestão de ferro mais elevados estavam diretamente associados a menor massa muscular. [Além disso,] a proteína C reativa, um marcador sanguíneo de inflamação, subiu para o dobro nos usuários de suplementos de ferro”, explicou a Dra. Elisa Keating.
“O nosso trabalho sugere que a suplementação com ferro, mais frequente nos ovolactovegetarianos, pode esta associada a uma maior inflamação sistêmica e, não se refletindo em melhor estado nutricional de ferro, poderá contribuir para o agravamento da diminuição da massa muscular induzida pela menor ingestão proteica na dieta”, destacou a pesquisadora.
Por outro lado, os pesquisadores observaram que a suplementação com vitamina B12, mais frequente entre os veganos, se associou, de forma estatisticamente significativa, com maior massa muscular. “Tudo indica que a suplementação de vitamina B12 protege da perda de massa muscular”.
“A suplementação com ferro parece agravar a diminuição da massa muscular. Como estes suplementos são de venda livre e de fácil acesso, o seu consumo indiscriminado pode ter consequências na saúde pública. Seria importante rever a forma como estes suplementos são disponibilizados no mercado e ter critérios mais restritos para a sua venda, levando em consideração que podem não produzir os efeitos desejados”, concluiu a professora Elisa Keating.
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Autores/Pesquisadores Citados
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