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Glioblastoma multiforme
Fonte
Fernanda Bassette, Agência FAPESP
Publicação Original
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Resumo
Em busca de novos alvos terapêuticos envolvidos no processo de recidiva do glioblastoma mesmo após tratamento cirúrgico para remoção do tumor, quimioterapia e radioterapia, pesquisadores identificaram uma potencial proteína-alvo através de edição genética.
Os pesquisadores usaram a tecnologia CRISPR-Cas9 para editar o genoma das células-tronco de glioblastoma e barrar a produção da proteína príon, que desempenha funções biológicas importantes no sistema nervoso central.
Esse procedimento diminuiu a capacidade de invasão e de proliferação das células cancerosas do glioblastoma, indicando que a proteína príon pode ser um futuro alvo para o desenvolvimento de novos fármacos contra o câncer cerebral.
Foco do Estudo
Por que é importante?
O glioblastoma, um dos tipos mais agressivos de câncer cerebral, tem atualmente uma taxa de sobrevida extremamente baixa e é um dos maiores desafios para a ciência e para a medicina.
Cientistas no mundo todo estão em busca de novos alvos terapêuticos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e capazes de aumentar a sobrevida e a qualidade de vida das pessoas afetadas.
O tratamento tradicional envolve cirurgia para a remoção do tumor, quimioterapia e radioterapia. Mas o glioblastoma raramente responde completamente ao tratamento e muitas vezes volta a se desenvolver meses depois, eventualmente de forma ainda mais agressiva e invasiva.
Estudo
Recentemente, um grupo de pesquisadores liderado pela Dra. Marilene Hohmuth Lopes, professora e pesquisadora do Laboratório de Neurobiologia e Células-Tronco do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), investigou o mecanismo de ação de células tumorais que permanecem no tecido cerebral mesmo após o tratamento completo contra o glioblastoma.
No estudo, publicado na revista BMC Cancer, a equipe descobriu que a proteína príon desempenha um papel-chave na biologia do glioblastoma.
A professora explicou que a cirurgia e o tratamento com o medicamento temozolomida matam as células que se multiplicam rapidamente e formam a grande parte do tumor. Apesar disso, as chamadas células-tronco tumorais (ou células-tronco de glioblastoma) ficam retidas no tecido cerebral em estado dormente. Quando voltam a se ativar, são capazes de coordenar novamente o crescimento do tumor e levar à recidiva da doença.
A proteína príon, estudada pelos pesquisadores, desempenha funções biológicas relevantes para a manutenção do sistema nervoso central: atua na funcionalidade e plasticidade do cérebro, está envolvida em processos cognitivos (formação e consolidação de memória, por exemplo) e contribui para a comunicação entre os neurônios.
Além de pesquisadores do ICB-USP, também participaram da pesquisa cientistas da University Health Network e da Universidade Western Ontário, no Canadá; do A.C. Camargo Cancer Center; da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP); da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP) e do Hospital Israelita Albert Einstein.
O tratamento do glioblastoma está estagnado há mais de 20 anos. É essencial descobrir novas estratégias para melhorar as chances de recuperação e a sobrevida dos pacientes
Resultados
Nos experimentos in vitro, os cientistas observaram que, ao cultivar as células-tronco de glioblastoma, havia um aumento significativo nos níveis da proteína príon, sugerindo que ela tem um papel fundamental na regulação dessas células.
Então, o grupo utilizou a tecnologia CRISPR-Cas9 para editar o genoma das células-tronco de glioblastoma e barrar a produção da proteína príon. Com isso, os pesquisadores conseguiram modificar o funcionamento dessas células, diminuindo a sua capacidade de invasão e de proliferação.
O grupo de pesquisa também estudou a interação da proteína príon com a proteína CD44, um marcador de células-tronco tumorais bastante conhecido e envolvido na invasão coletiva do câncer de mama e colorretal.
“Descobrimos recentemente que uma molécula modula a outra e, agora, buscamos entender melhor essa interação. Até o momento, sabemos que a proteína príon pode funcionar como um arcabouço, criando plataformas multiproteicas de sinalização na membrana das células, para que elas sobrevivam e proliferem. Quando alteramos a produção dessa proteína [via CRISPR-Cas9], descobrimos que a sua ausência compromete a autorrenovação, a migração e a invasão das células tumorais”, destacou a pesquisadora.
Mas ainda são necessárias mais pesquisas para transformar esse conhecimento em medicamentos aplicáveis à prática clínica. “A gente trabalha com pesquisa básica. Demora muitos anos para conseguirmos transpor essas descobertas em tratamentos. Mas estamos no processo de entender mecanismos, de entender como essa proteína regula outros genes importantes na biologia celular e tumoral e de que forma pode, no futuro, se tornar um potencial alvo terapêutico. O estudo continua”, concluiu a professora Marilene Lopes.
[O estudo] nos mostrou que a príon é um potencial alvo terapêutico. Mas é pouco provável que uma única proteína, sozinha, seja responsável pelo desenvolvimento da doença. Acreditamos que ela atue em diferentes vias de sinalização, por isso seguimos investigando outros mecanismos e possíveis parceiros da proteína
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