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Florian Raith, Universidade Maastricht
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Resumo
Pesquisador da Universidade Maastricht, nos Países Baixos, recebeu recentemente um financiamento para aprofundar estudos sobre as redes urbanas de proteção alimentar para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Considerando ações de grupos isolados ou mesmo de empresas que distribuem alimentos como caridade, o pesquisador busca analisar a sustentabilidade das ações e como essas ações podem ajudar a reverter a condição de fragilidade social das pessoas e levar a uma nova condição de segurança alimentar, e não apenas redução da fome.
O Dr. Filippo Oncini, professor da Escola de Negócios e Economia da Universidade Maastricht, nos Países Baixos, estuda instituições e ações de caridade envolvendo alimentação e desenvolve instrumentos práticos para analisar a pobreza urbana e o suporte alimentar.
Recentemente, ele recebeu um financiamento do ERC – o Conselho Europeu de Pesquisa – para conduzir pesquisas etnográficas urbanas em Palermo, na Itália; Kyoto, no Japão e Roterdã, nos Países Baixos.
Em seu doutorado, o pesquisador estudou a desigualdade alimentar na Itália, concentrado em como as famílias obtêm e consomem alimentos dependendo de sua classe social. Seu trabalho teve foco na alimentação de crianças em idade escolar em um bairro pobre de Palermo.
“Percebi que, para muitas crianças, [a merenda escolar] era sua única refeição adequada do dia. Então, decidi me concentrar na pobreza urbana, mas ainda com foco na alimentação”.
Depois do doutorado, o professor Oncini foi para Manchester, no Reino Unido, para estudar como o acesso ao suporte alimentar impacta a vida de pessoas pobres no ambiente urbano. O Reino Unido, segundo o pesquisador, tem um dos sistemas mais avançados de fornecimento de apoio alimentar, combinando doações de alimentos com a redistribuição do excedente de alimentos. “O Trussell Trust, por exemplo, desenvolveu a primeira rede de bancos de alimentos e se tornou incrivelmente bem-sucedido. É um modelo tradicional em que cidadãos particulares doam alimentos.”
Em 2006, o Trussell Trust distribuiu menos de 3.000 cestas básicas de alimentos para pessoas em vulnerabilidade social; no ano passado, esse número ultrapassou 3,1 milhões.
Segundo o pesquisador, houve uma mudança no conceito das doações: antigamente, pessoas e empresas compravam e doavam alimentos novos, enquanto nos últimos anos o foco mudou para um modelo mais sustentável, com foco na redução do desperdício e redirecionamento do excedente.
Envolver-se com estatísticas sobre pobreza é fundamental, mas não é o suficiente. Interagir com as pessoas afetadas é algo totalmente diferente. Você passa a entender o imenso fardo que isso coloca sobre elas e o sofrimento que isso causa. Minha pesquisa não resolverá o problema, mas espero que contribua para uma compreensão mais profunda da situação
De Manchester a Kyoto
Depois de Manchester, o professor Oncini recebeu um financiamento da Japan Society for the Promotion of Science (JSPS) para um estudo comparativo de sistemas de fornecimento de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade no Reino Unido e no Japão.
Embora existam semelhanças, o sistema japonês envolve atores mais informais: muitos grupos pequenos e independentes organizam distribuições mensais de alimentos, muitas vezes fora do escopo das regulamentações formais de segurança alimentar.
“Essas iniciativas são normalmente administradas por comunidades locais ou associações de bairro, refletindo uma abordagem descentralizada para lidar com a insegurança alimentar”
O Japão enfrenta desafios únicos nesta área. À medida que a insegurança alimentar continua crescendo, muitos japoneses dependem de vários fornecedores/doadores de alimentos para atender às suas necessidades básicas. “Você só recebe uma certa quantidade de comida de cada vez, então as pessoas planejam suas vidas em torno dos horários de diferentes instituições de caridade que fornecem os alimentos. Isso adiciona estresse e fadiga significativos às suas rotinas diárias”, ressaltou.
Ganha-ganha?
Reduzir o desperdício de alimentos e, ao mesmo tempo, atender as pessoas com fome pode parecer uma situação ganha-ganha. “Mas você não está realmente resolvendo nenhum dos problemas. É uma proteção contra a fome, não contra a insegurança alimentar. E também não desincentiva a superprodução”, destacou o pesquisador.
O aumento do fornecimento de alimentos de caridade à medida que o estado reduz os gastos com assistência social é politicamente conveniente. “Os governos economizam dinheiro, e as corporações podem se rotular como sustentáveis e socialmente responsáveis. Mas você acaba perpetuando o próprio sistema que produz pobreza em primeiro lugar”, disse o Dr. Filippo Oncini.
Segundo o pesquisador, enquadrar a redistribuição de alimentos excedentes como uma solução socialmente responsável mascara as questões mais profundas de desigualdade estrutural e superprodução.
Nova pesquisa
Neste cenário, o professor Oncini usará o novo financiamento para desenvolver uma estrutura teórica e metodológica que integre métodos quantitativos e qualitativos e possa ser aplicada em vários países.
O objetivo é criar ferramentas para entender melhor como o fornecimento de alimentos de caridade se tornou tão importante em muitos países de alta e média renda. Ao mesmo tempo, ele deve explorar o impacto desse fornecimento de alimentos nas estratégias de sobrevivência daqueles que dependem dele.
Com o novo projeto, o professor espera atrair mais atenção acadêmica para a questão da alimentação de pessoas em vulnerabilidade social.
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