
Fonte
Mônica Tarantino, Jornal da Unesp
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Resumo
Um estudo recente desenvolvido por pesquisadores Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu identificou a presença do parasita Spirometra spp. em amostras de fezes coletadas de onças que vivem próximas à cidade de Poconé, no Mato Grosso.
Os pesquisadores analisaram 40 amostras de fezes das onças e usaram sequenciamento genético para a identificação do patógeno, que pode causar uma doença chamada esparganose.
A doença pode afetar músculos, olhos e o sistema nervoso central, causando dor, inflamação, convulsões e até cegueira.
Em análise laboratorial de amostras fecais de onças-pintada – coletadas entre 2022 e 2024 perto da cidade de Poconé, no Mato Grosso – pesquisadores encontraram o parasita Spirometra spp., capaz de contaminar humanos. O patógeno foi identificado por meio de sequenciamento genético, realizado em laboratório da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A descoberta do parasita Spirometra spp. foi um dos resultados do mestrado do médico-veterinário Paul Raad, que cursou o Programa de Pós-graduação em Animais Selvagens da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu.
“A presença do Spirometra spp. nas fezes das onças sugere que ele está circulando pelo ecossistema dessa região, onde nunca fora encontrado, e pode afetar outros animais e também seres humanos”, explicou Paul Raad.
Foram analisadas 40 amostras de fezes de onças durante o estudo. “Os resultados indicaram uma alta prevalência do parasita. Cerca de um terço das amostras testou positivo, o que é bastante”, destacou o Dr. Felipe Fornazari, professor da área de Zoonoses na Unesp e orientador do trabalho de mestrado de Paul Raad.
Além de trazer novas informações sobre Zoonoses e Ecologia, os resultados do estudo valorizam o conceito de Saúde Única, adotado pelo pesquisador há quase uma década. Essa abordagem vê a saúde dos seres humanos, dos animais e do ecossistema de forma interligada, destacando a importância de considerar todos esses elementos em conjunto para promover uma saúde integral.
[A ‘Saúde Única’] é uma forma estratégica de ciência, que promove a colaboração entre diversas disciplinas para monitorar patógenos e prevenir surtos antes que se tornem um problema de saúde pública
O parasita identificado pode causar esparganose, uma doença que afeta humanos de diversas formas. A infecção ocorre quando uma pessoa ingere água contaminada com copépodes (Cyclops e outros pequenos crustáceos de água doce) infectados ou consome carne malcozida de hospedeiros intermediários, como anfíbios e répteis.
As larvas normalmente se alojam no tecido subcutâneo, formando nódulos. Em casos mais graves, podem atingir músculos, olhos e o sistema nervoso central, causando dor, inflamação, convulsões e até cegueira. Há também uma forma rara e agressiva, a esparganose proliferativa, na qual as larvas se multiplicam e se espalham por múltiplos órgãos.
O diagnóstico da esparganose geralmente é feito por exames de imagem ou pela remoção cirúrgica da larva, com confirmação laboratorial. A prevenção inclui o consumo de água filtrada ou fervida e a ingestão de carnes bem cozidas.
Em animais que atuam como hospedeiros definitivos do parasita, o patógeno se desenvolve em seu intestino e é excretado nas fezes, como ocorre com a onça. Quando as larvas eclodem e deixam os ovos, elas cumprem parte de seu ciclo no meio aquático, podendo ser ingeridas por diversos tipos de hospedeiros intermediários.
Ainda que não costume afetar significativamente a saúde das onças, a presença do parasita é um indicativo da saúde do ecossistema e pode alertar sobre potenciais riscos para a saúde humana.
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Acesse a dissertação de mestrado completa: ‘Investigação de Ancylostoma caninum e Spirometra spp. em amostras fecais de onça-pintada (Panthera onca) no Patanal Brasileiro: uma abordagem em saúde única’ no repositório da Unesp.
Acesse a notícia original completa na página do Jornal da Unesp.