
Fonte
Ivanir Ferreira, Jornal da USP
Publicação Original
Áreas
Resumo
Uma nova proposta terapêutica para o tratamento de adolescentes que têm simultaneamente transtorno borderline e transtornos alimentares está sendo implementada no Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP.
Em um trabalho conjunto com especialistas dos EUA, pesquisadores brasileiros desenvolveram a nova abordagem com a finalidade de facilitar o acesso dos pacientes ao tratamento na rede pública de saúde.
Dentre as intervenções da nova abordagem, a aliança terapêutica colaborativa com o paciente é fundamental para a evolução do tratamento, pois permite que ele se engaje em um aprendizado ativo e na implementação de mudanças.
Foco do Estudo
Estudo
Pesquisadores da Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), em parceria com o Hospital McLean, nos EUA, desenvolveram uma nova abordagem terapêutica voltada ao tratamento de adolescentes com transtorno de personalidade borderline associado a transtornos alimentares.
A iniciativa busca preencher uma lacuna na rede pública de saúde, que atualmente oferece poucas opções de tratamento para essa combinação de condições psiquiátricas – caracterizadas por alta complexidade, sobreposição de sintomas e fatores de risco comuns.
As intervenções existentes são escassas, altamente especializadas, de longa duração e pouco acessíveis à população. A adolescência é uma fase considerada crucial para obter melhores prognósticos, evitar a piora dos sintomas e reduzir o risco dos transtornos se tornarem crônicos.
A nova abordagem – chamada ‘Bom Manejo Psiquiátrico para Adolescentes com Transtorno de Personalidade Borderline e Transtornos Alimentares’ (ou GPM-AED, da sigla em inglês) – é multidisciplinar e inclui diagnóstico precoce, acolhimento, psicoeducação, manejo de comportamentos autodestrutivos, participação ativa da família e uso de medicação, quando necessário.
A nova proposta terapêutica está sendo implementada no Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP.
De acordo com o Dr. Marcos Signoretti Croci, médico psiquiatra e um dos coordenadores do Ambulatório para o Desenvolvimento dos Relacionamentos e Emoções do IPq-HC-FMUSP, os transtornos de personalidade costumam surgir na adolescência e no início da idade adulta. Estima-se que entre 30% e 50% dos adolescentes com transtorno de personalidade borderline em tratamento ambulatorial também apresentem sintomas de transtornos alimentares, como anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar – condições cujos diagnósticos podem se sobrepor ao longo do tempo.
A condição clínica desses pacientes é marcada por instabilidade emocional, impulsividade, relacionamentos interpessoais intensos e risco elevado de suicídio, sendo agravada por uma relação disfuncional com a comida, frequentemente usada como forma de regulação emocional
Resultados
Embora existam tratamentos eficazes para ambas as condições separadamente, o Dr. Marcos Croci explicou que essas abordagens são altamente especializadas, de longa duração e com oferta restrita, o que as tornam pouco acessíveis à rede pública de atenção primária à saúde.
Segundo o especialista, a nova proposta terapêutica é focada especificamente no adolescente por compreender que ambos os distúrbios, nesta faixa etária, têm sobreposições sintomáticas porque compartilham fatores de risco e características clínicas semelhantes: histórico de trauma ou abuso na infância; apego inseguro (relações instáveis); afetividade negativa (emoções intensas e difíceis de controlar); dificuldade na regulação emocional; impulsividade; autoimagem instável e baixa autoestima; e comportamentos autodestrutivos.
O GPM-AED foi uma adaptação do modelo General Psychiatric Management — originalmente voltado para adultos com transtorno de personalidade borderline, desenvolvido pelo já falecido psiquiatra John Gunderson, professor da Escola Médica de Harvard e pesquisador do Hospital McLean, referência mundial em borderline.
Dentre as intervenções da nova abordagem, o Dr. Marcos Croci considera difícil identificar isoladamente qual seja mais importante, assim como ocorre em outros tratamentos complexos, mas o médico ressaltou que a formação de uma aliança terapêutica colaborativa com o paciente é fundamental para a evolução do tratamento, pois permite que ele se engaje em um aprendizado ativo e na implementação de mudanças.
O psiquiatra também reforçou a importância do envolvimento da família, considerado um componente essencial no tratamento. A participação familiar contribui para o engajamento do paciente, melhora a dinâmica relacional e fortalece o apoio ao longo da terapia.
A nova proposta terapêutica foi publicada na revista científica American Journal Psychotherapy.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a revista científica American Journal Psychotherapy (em inglês).
Mais Informações
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