
Fonte
Universidade Monash
Publicação Original
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Resumo
A partir de simulações computacionais (estudo in silico) e estudo em animais, pesquisadores na Austrália avançaram no entendimento dos processos moleculares envolvidos em doenças pulmonares causadas pela fumaça de cigarros.
Substâncias químicas presentes na fumaça de cigarros afetam uma proteína chamada MR1, que é responsável por ativar células T invariantes associadas à mucosa (MAIT), e que ajudam a combater infecções bacterianas ou virais.
Compreendendo melhor estes mecanismo moleculares, as pesquisas podem evoluir para novos tratamentos contra doenças crônicas do pulmão.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Há muito se sabe que o fumo impacta negativamente na saúde pulmonar, podendo levar até à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), a quarta principal causa de mortes no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde – foram 3,5 milhões de mortes em 2021 (5% do total de mortes no mundo).
Apesar de se conhecer os males da fumaça, os mecanismos moleculares que facilitam processos inflamatórios e comprometem a defesa do sistema imunológico ainda são desconhecidos.
Se esses mecanismos forem conhecidos, podem ser desenvolvidos novos tratamentos para várias doenças pulmonares, incluindo a DPOC.
Estudo
Pesquisadores revelaram como vários produtos químicos encontrados na fumaça do cigarro e dos cigarros eletrônicos alteram a função de um tipo-chave de célula imunológica encontrada nos pulmões.
O estudo, publicado na revista científica Journal of Experimental Medicine, foi realizado por pesquisadores da Universidade Monash, Universidade de Newcastle, Universidade de Queensland, Universidade de Tecnologia de Sydney, Instituto de Pesquisa Médica Hudson, Universidade de Melbourne e Peter Doherty Institute for Infection and Immunity, todas instituições na Austrália.
De acordo com o Dr. Wael Awad, pesquisador da Universidade Monash e primeiro autor do artigo científico, “até agora os mecanismos subjacentes às respostas imunológicas distorcidas em pessoas expostas à fumaça de cigarro e como elas estão relacionadas a doenças associadas à fumaça, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), permanecem obscuros”.
Os pesquisadores analisaram os efeitos da fumaça de cigarro nas células T invariantes associadas à mucosa (MAIT), um tipo de célula imunológica encontrada nos pulmões e outros tecidos do corpo. As células MAIT ajudam a combater infecções bacterianas e virais e podem promover inflamação ou reparo de tecidos.
As células MAIT são ativadas por uma proteína chamada MR1, encontrada em quase todas as células do corpo. A proteína MR1 reconhece substâncias químicas produzidas por bactérias e as apresenta na superfície das células infectadas para ativar as células MAIT e iniciar uma resposta imunológica.
“Suspeitamos que algumas das mais de 20.000 substâncias químicas presentes na fumaça do cigarro que os fumantes inalam também podem se ligar à MR1 e influenciar a atividade das células MAIT nos pulmões”, disse o Dr. Wael Awad.
Os pesquisadores, então, usaram modelagem computacional (estudo in silico) para prever quais componentes da fumaça do cigarro podem ser reconhecidos pela MR1, usando uma biblioteca de aproximadamente 6.000 compostos orgânicos que se formam durante o processo de formação da fumaça.
Nosso estudo revela que componentes da fumaça de cigarro podem se ligar à proteína MR1 e reduzir as funções das células imunológicas protetoras chamadas células MAIT. Isso aumenta a suscetibilidade a infecções e piora a progressão da doença pulmonar
Resultados
No estudo in silico, os pesquisadores descobriram que várias dessas moléculas não apenas se ligam à proteína, mas também aumentam ou diminuem as quantidades da proteína na superfície das células.
Essas substâncias químicas, incluindo derivados de benzaldeído que também são usados como aromatizantes em cigarros eletrônicos, bloqueiam a ativação de células MAIT humanas.
A equipe de pesquisa então estudou os efeitos da fumaça do cigarro nas células MAIT do sangue humano e de camundongos e mostrou que elas reduzem a função das células MAIT: camundongos expostos repetidamente à fumaça de cigarro desenvolveram sintomas de doença pulmonar, e isso piorou se também estavam infectados pela gripe.
Os pesquisadores descobriram que a exposição prolongada à fumaça de cigarro alterou a proteção fornecida aos camundongos por suas células MAIT, tornando-os menos capazes de combater infecções por gripe e mais propensos ao desenvolvimento da DPOC.
Portanto, o estudo sugere que essas alterações moleculares tornam os fumantes de cigarro e aqueles expostos ao fumo passivo mais susceptíveis a infecções respiratórias e podem agravar doenças inflamatórias relacionadas ao tabagismo, como DPOC.
Agora, os pesquisadores planejam investigar exatamente quais vias das células MAIT são impactadas pela fumaça de cigarro, a fim de aprender como tratar melhor a DPOC e outras doenças pulmonares.
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Autores/Pesquisadores Citados
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Publicação
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