
Fonte
José Luiz Guerra, Unifesp
Publicação Original
Áreas
Compartilhar
Resumo
Pesquisadores avaliaram 244 pacientes com infarto agudo do miocárdio atendidos por hospitais públicos da cidade de São Paulo para verificar a associação entre o delta glicêmico – a diferença entre a glicemia medida na admissão hospitalar e o valor médio estimado através da hemoglobina glicada – e o grau de dano cardíaco.
A associação foi estatisticamente significativa e se manteve mesmo após ajustes por outras variáveis clínicas e metabólicas, indicando que, quanto maior a hiperglicemia de estresse, maior o grau de fibrose miocárdica e pior a função cardíaca, independentemente de o paciente ser diabético, pré-diabético ou sem diagnóstico prévio.
Os pesquisadores destacaram que a monitorização glicêmica precoce, assim que o paciente chega ao hospital, pode orientar condutas terapêuticas e estratégias de acompanhamento pós-infarto.
Foco do Estudo
Estudo
O acesso à glicemia do paciente já na admissão hospitalar pode ajudar a prever o grau de comprometimento do coração após um infarto. É o que mostrou um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que identificou que o chamado ‘delta glicêmico’ está associado à extensão do infarto e pior função do ventrículo esquerdo em pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (STEMI).
O delta glicêmico’ é a diferença entre a glicemia medida na admissão hospitalar e a glicemia média estimada pela hemoglobina glicada (HbA1c).
A elevação transitória dos níveis de glicose no sangue, conhecida como hiperglicemia de estresse, é comum em situações agudas como o infarto e pode ocorrer mesmo em pessoas sem diagnóstico prévio de diabetes.
Estudos anteriores já haviam apontado que esse fenômeno está associado a maior risco de complicações, mas este é o primeiro estudo a empregar o delta glicêmico como preditor direto da gravidade do dano cardíaco, com base em exames de imagem.
Os pesquisadores avaliaram 244 pacientes com infarto agudo do miocárdio atendidos por hospitais públicos da cidade de São Paulo, tratados por meio de estratégia farmacoinvasiva – que combina trombólise precoce e cateterismo subsequente. Trinta dias após o evento, todos foram submetidos à ressonância magnética cardíaca, que avaliou a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (LVEF) e o tamanho da área infartada.
O estudo integra projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com apoio da AstraZeneca Brasil, e representa um avanço no uso de biomarcadores simples e acessíveis para a melhoria do prognóstico cardiovascular.
Também colaboraram no estudo pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC).
Mesmo em pessoas sem diabetes, o delta glicêmico elevado sinaliza maior risco de sequelas cardíacas
Resultados
Os dados revelaram que deltas glicêmicos mais elevados estavam associados ao maior grau de fibrose miocárdica e pior função cardíaca, independentemente de o paciente ser diabético, pré-diabético ou sem diagnóstico prévio.
A associação foi estatisticamente significativa e se manteve mesmo após ajustes por outras variáveis clínicas e metabólicas. Embora o valor discriminativo isolado (AUC = 0,65) seja moderado, o delta glicêmico demonstrou ser um marcador útil quando integrado a outros parâmetros de risco.
“Trata-se de um indicador fácil de calcular e que pode ser usado já na chegada do paciente ao hospital, com base em exames de rotina”, explicou o Dr. Francisco Antonio Fonseca, professor de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo e um dos coordenadores do estudo.
Além de reforçar a importância da monitorização glicêmica precoce, os autores destacaram que o delta glicêmico pode orientar condutas terapêuticas e estratégias de acompanhamento pós-infarto. O estudo recomenda que a análise da variação glicêmica seja incorporada às avaliações clínicas iniciais e que pacientes com maior delta recebam monitoramento ambulatorial mais intensivo e intervenções personalizadas.
Entre os mecanismos apontados para os efeitos deletérios da hiperglicemia de estresse estão o aumento da atividade simpática, do estresse oxidativo, da inflamação, da disfunção endotelial e da ativação plaquetária, que podem comprometer a perfusão do miocárdio e dificultar sua recuperação.
Os resultados foram publicados na revista científica Diabetology & Metabolic Syndrome.
Controlar a glicemia em pacientes com infarto não é apenas uma questão metabólica. É uma estratégia de proteção cardíaca.
Em suas publicações, o Portal SciAdvances tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Portal SciAdvances tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.
Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Diabetology & Metabolic Syndrome (em inglês).
Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Universidade Federal de São Paulo.
Notícias relacionadas
Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN
HU-UFMA/Ebserh