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Jaime Fernández, Tribuna Complutense, Universidade Complutense de Madri
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Resumo
Na Universidade Complutense de Madri, na Espanha, o Dr. Rafael Matesanz conduziu recentemente um curso de verão sobre alternativas para a falta de órgãos para transplante.
O especialista destacou os bons números da Espanha em termos de doação e transplantes de órgãos, e também apresentou os xenotransplantes como alternativa que ainda vem sendo estudada para o futuro, apesar de todas as limitações associadas até o momento.
O Dr. Rafael Matesanz apresentou as novas tentativas que vêm sendo realizadas no sentido de evolução e validação dos xenotransplantes e também na criação de quimeras, quando as células-tronco do paciente são misturadas a um embrião de porco para que ele desenvolva um órgão específico com as características daquele ser humano específico.
O especialista destacou os aspectos técnicos, econômicos e principalmente éticos, que estão envolvidos nas pesquisas.
O Dr. Rafael Matesanz, fundador da Organização Nacional de Transplantes da Espanha e especialista da OMS em transplante de órgãos, tecidos e células, conduziu recentemente, na Universidade Complutense de Madri, um curso de verão sobre xenotransplantes e quimeras como possíveis alternativas futuras diante da escassez de órgãos para transplante.
Os xenotransplantes consideram órgãos criados em animais geneticamente modificados que seriam removidos e então transferidos a seres humanos, enquanto as quimeras são organismos compostos por células de dois ou mais organismos geneticamente distintos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, há dois milhões de pacientes no mundo que poderiam se beneficiar de um transplante, mas os dados mais recentes, de 2023, indicam que pouco mais de 172 mil pessoas receberam um órgão.
O Dr. Rafael Matesanz reconheceu, em sua palestra, o papel de destaque da Espanha na doação de órgãos e transplantes atualmente: de cada 100 pessoas que precisam de um órgão, 90 recebem um transplante. O especialista reconheceu que essa eficiência se deve a uma boa gestão: na Espanha, há 52,6 doadores por milhão de habitantes, enquanto a média europeia é de apenas 22,9. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde de 2023, seriam cerca de 20 doadores de órgãos por milhão de habitantes.
Uma alternativa para modificar esse cenário e melhorar a disponibilização de órgãos para transplante seria o uso de xenotransplantes. Mas o Dr. Matesanz explicou que atualmente não há nenhum experimento bem-sucedido com xenotransplantes, e que o recorde para um humano com um rim transplantado de porco, com 69 genes modificados e realizado em 2024, foi de uma sobrevivência de 130 dias. Esse resultado está longe dos 19 anos que dura um rim transplantado de uma pessoa viva, dos 11,7 anos que dura um rim transplantado de um cadáver e da taxa de sobrevivência do paciente de mais de uma década.
Em relação aos xenotransplantes, estudos também revelaram a presença de retrovírus suínos que poderiam ser transmitidos a humanos transplantados, conforme confirmado até certo ponto em algumas autópsias. Os experimentos foram interrompidos após um artigo ser publicado na revista científica The Lancet, que discutiu todos os problemas que os xenotransplantes poderiam causar.
Na Espanha, de cada 100 pessoas que precisam de um órgão, 90 recebem um transplante
Nesse cenário, e considerando a facilidade de modificar geneticamente seres vivos graças às tecnologias CRISPR, no início do século XXI surgiram empresas nos Estados Unidos, na China e até pesquisadores da Universidade de Múrcia, na Espanha, que se empenham em trazer de volta os xenotransplantes.
Uma das empresas americanas – que atingiu a taxa máxima de sobrevivência de 130 dias – o fez com custos enormes. O Dr. Rafael Matesanz relatou que esse custo foi de 1,5 milhão de euros, enquanto na Espanha um transplante de rim custa cerca de 15.000 euros. Portanto, ou seria encontrada uma ‘fábrica infinita de órgãos’ ou não haveria um sistema de seguridade social capaz de sustentar transplantes a esses preços.
Na China, em experimentos com macacos, cientistas optaram por uma nova abordagem, que é a criação de quimeras, onde as células-tronco do paciente são misturadas ao embrião do porco para que ele desenvolva um órgão específico com as características daquele ser humano específico. Isso supostamente evita a rejeição de transplantes, algo que ainda precisa ser demonstrado em ensaios clínicos, alguns dos quais já estão em andamento no país asiático e nos Estados Unidos.
O Dr. Rafael Matesanz explicou que, se isso for alcançado, as listas de espera serão reduzidas, embora o número potencial de candidatos aumente. Provavelmente, os critérios para distribuição de órgãos teriam que ser alterados e talvez isso teria um impacto negativo nas doações altruístas, já que com a disponibilidade de órgãos, menos pessoas desejariam doar.
Anos de desenvolvimento e muitos desafios estão por vir, incluindo aspectos técnicos, econômicos e principalmente éticos, porque essa técnica envolve modificar geneticamente outros seres vivos para transformá-los em fábricas de órgãos humanos.
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