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Excesso de exames e consultas no pré-operatório de cirurgias de baixo risco sobrecarrega sistema de saúde
15 de agosto de 2025, 17:17

Fonte

Nicole Trevisol, UFRGS

Publicação Original

Áreas

Análises Clínicas, Atenção Primária, Biomedicina, Cardiologia, Cirurgia, Epidemiologia, Medicina, Patologia

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Resumo

Josiane França John defendeu recentemente sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares (PPG Cardiologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostrando um problema que acontece no sistema de saúde brasileiro: o uso excessivo de exames e consultas no período pré-operatório de cirurgias de baixo risco.

A pesquisa analisou 38.389  procedimentos – 27.678 na saúde suplementar e 10.711 no SUS – realizados entre 2015 e 2023 na rede pública e na saúde suplementar. Os achados demonstraram que a maior parte dos pacientes foi submetida a cuidados que não são recomendados por diretrizes clínicas baseadas em evidências e que consomem milhões de reais.

Cuidados de baixo valor são intervenções (exames, consultas ou tratamentos) realizados por rotina, sem necessidade comprovada. Apesar de bem-intencionados, não oferecem benefícios reais ao paciente e podem causar atrasos, custos adicionais, resultados falso-positivos e procedimentos desnecessários em cascata.

Nos 38.389 procedimentos analisados foram realizados mais de 390 mil exames e 120 mil consultas pré-operatórias, ao custo de R$ 10,88 milhões apenas na rede privada; 57,5% dos pacientes do setor suplementar fizeram pelo menos um exame (sendo 95,3% exames laboratoriais), e os desfechos clínicos foram igualmente seguros em ambos os sistemas. “Esses dados reforçam que os exames e consultas não aumentaram a segurança dos pacientes, mas contribuíram para a sobrecarga do sistema e o uso ineficiente dos recursos”, explicou a pesquisadora.

O estudo é o primeiro no Brasil a quantificar esse fenômeno em larga escala, tanto no SUS quanto na saúde suplementar.

Os resultados fortalecem a urgência de implementar estratégias de praticar uma medicina baseada em ciência,  ou seja, retirar gradualmente práticas ineficazes e substituí-las por ações de valor comprovado. Isso requer ações coordenadas em diferentes níveis: formar médicos desde a graduação com foco em pensamento crítico e uso racional de recursos, engajar pacientes de forma mais crítica e ajustar protocolos institucionais.

“Mais do que combater desperdícios financeiros, trata-se de evitar iatrogenias (danos à saúde do paciente causados por ações ou procedimentos médicos, sejam eles intencionais ou não), restaurar a confiança na boa medicina e construir um sistema de saúde sustentável. O cuidado pré-operatório não deve ser a ‘última chance’ de fazer check-ups sem critério, mas sim parte de uma linha contínua de cuidado centrado na pessoa e não no excesso”, concluiu a recém-doutora.

A Dra. Josiane foi orientada pela Dra. Carisi Anne Polanczyk e pela Dra. Ana Paula Etges, professoras do PPG Cardiologia e do PPG em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, respectivamente.

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Autores/Pesquisadores Citados

Doutora em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da UFRGS
Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Cardiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Professora no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS

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