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Resumo
Josiane França John defendeu recentemente sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares (PPG Cardiologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostrando um problema que acontece no sistema de saúde brasileiro: o uso excessivo de exames e consultas no período pré-operatório de cirurgias de baixo risco.
A pesquisa analisou 38.389 procedimentos – 27.678 na saúde suplementar e 10.711 no SUS – realizados entre 2015 e 2023 na rede pública e na saúde suplementar. Os achados demonstraram que a maior parte dos pacientes foi submetida a cuidados que não são recomendados por diretrizes clínicas baseadas em evidências e que consomem milhões de reais.
Cuidados de baixo valor são intervenções (exames, consultas ou tratamentos) realizados por rotina, sem necessidade comprovada. Apesar de bem-intencionados, não oferecem benefícios reais ao paciente e podem causar atrasos, custos adicionais, resultados falso-positivos e procedimentos desnecessários em cascata.
Nos 38.389 procedimentos analisados foram realizados mais de 390 mil exames e 120 mil consultas pré-operatórias, ao custo de R$ 10,88 milhões apenas na rede privada; 57,5% dos pacientes do setor suplementar fizeram pelo menos um exame (sendo 95,3% exames laboratoriais), e os desfechos clínicos foram igualmente seguros em ambos os sistemas. “Esses dados reforçam que os exames e consultas não aumentaram a segurança dos pacientes, mas contribuíram para a sobrecarga do sistema e o uso ineficiente dos recursos”, explicou a pesquisadora.
O estudo é o primeiro no Brasil a quantificar esse fenômeno em larga escala, tanto no SUS quanto na saúde suplementar.
Os resultados fortalecem a urgência de implementar estratégias de praticar uma medicina baseada em ciência, ou seja, retirar gradualmente práticas ineficazes e substituí-las por ações de valor comprovado. Isso requer ações coordenadas em diferentes níveis: formar médicos desde a graduação com foco em pensamento crítico e uso racional de recursos, engajar pacientes de forma mais crítica e ajustar protocolos institucionais.
“Mais do que combater desperdícios financeiros, trata-se de evitar iatrogenias (danos à saúde do paciente causados por ações ou procedimentos médicos, sejam eles intencionais ou não), restaurar a confiança na boa medicina e construir um sistema de saúde sustentável. O cuidado pré-operatório não deve ser a ‘última chance’ de fazer check-ups sem critério, mas sim parte de uma linha contínua de cuidado centrado na pessoa e não no excesso”, concluiu a recém-doutora.
A Dra. Josiane foi orientada pela Dra. Carisi Anne Polanczyk e pela Dra. Ana Paula Etges, professoras do PPG Cardiologia e do PPG em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, respectivamente.
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Acesse a tese de doutorado ‘Avaliação do desperdício clínico (low-value care) nas cirurgias de baixo risco cardiovascular ‘.
Acesse a notícia original completa na página da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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