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UFRGS
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Resumo
Em sua pesquisa de doutorado apresentada junto à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Dra. Gabriela Monteiro considerou entrevistas e questionários realizados com quase 2.500 pessoas – entre estudantes, profissionais e ex-profissionais – para analisar a incidência de burnout na área de Medicina.
Os dados obtidos mostram um cenário grave: quase 40% dos médicos no país se autodeclararam em burnout, e a exaustão emocional foi diagnosticada em quase 60% desses profissionais. A despersonalização apareceu em 45,5% dos casos e 33,1% da amostra tinha sentimento de baixa realização pessoal.
A síndrome do burnout é caracterizada por um grau elevado de exaustão física e psicológica, causado por demandas ou responsabilidades excessivas no emprego e na vida pessoal, com efeitos em três dimensões: a desconexão com o trabalho (despersonalização), o sentimento de baixa realização pessoal e a exaustão emocional.
Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome do esgotamento profissional atinge principalmente os trabalhadores que lidam com pressão no dia a dia (dentre eles, os profissionais da saúde), o que torna ainda mais latente a discussão sobre as condições de trabalho no país.
A pesquisa de Gabriela Monteiro, que concluiu seu doutorado no Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), avaliou a incidência do burnout na carreira médica e os fatores de risco associados. O estudo foi orientado pela Dra. Simone Hauck, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS.
A partir de entrevistas com estudantes, residentes, generalistas, especialistas e aposentados, foi aplicado um questionário que teve a participação de 2.486 pessoas, sendo 274 delas estudantes e 2.212 que já exercem ou exerceram a profissão.
Quanto melhor o relacionamento com a família, menor o risco de burnout. Quanto melhor o relacionamento com os amigos, também é menor o risco
A Dra. Gabriela Monteiro detectou que 39,9% dos médicos no país se autodeclararam em burnout, porém a exaustão emocional, uma das características da doença, foi diagnosticada em 59,3% desses profissionais. A despersonalização apareceu em 45,5% dos casos e 33,1% da amostra tinha sentimento de baixa realização pessoal.
A pesquisa avaliou a relação dos participantes com a instituição em que trabalhavam, com os superiores e os colegas, levantando um dado alarmante: somente 25% dos médicos trabalhavam em um ambiente saudável, enquanto 75% estavam em um contexto considerado de risco ou tóxico, de acordo com o Inventário de Avaliação do Ambiente de Trabalho (WEEI).
Embora as condições laborais tenham grande impacto na saúde mental, há outros fatores, também comprovados pela pesquisa, que colaboram para o desenvolvimento dessa condição.
A quantidade de horas de sono, a prática de atividade física e a qualidade de relações com amigos e familiares demonstraram ser fatores determinantes para o aparecimento (ou não) do burnout. Também, os profissionais que moravam sozinhos, que não tinham filhos e que faziam uso abusivo de álcool estavam mais propensos a desenvolver a síndrome.
Os níveis mais altos de despersonalização — caracterizada pela desilusão com o serviço prestado — e exaustão emocional foram encontrados em quem trabalhava na área há menos de cinco anos. A partir dos 30 anos de carreira, os dois níveis diminuíram e o sentimento de realização pessoal aumentou.
Para a pesquisadora, o cenário de alta incidência da doença ocupacional não é específico do Brasil ou da medicina, mas uma tendência no mercado de trabalho atual. Por isso, ela ressaltou a importância de cada instituição avaliar continuamente o bem-estar de sua equipe e desenvolver intervenções e melhorias eficazes, levando em consideração como os trabalhadores se sentem e a forma como se relacionam com as demandas.
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