
Fonte
Luiza Caires, Jornal da USP
Publicação Original
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Resumo
Usando dados de mais de 12 mil participantes do estudo longitudinal Elsa Brasil, acompanhados durante 8 anos a partir de 2008, pesquisadores realizaram um estudo observacional que associou o consumo de adoçantes artificiais à aceleração do declínio cognitivo.
Foi observada uma associação significativa entre maior consumo dos adoçantes aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol a um declínio mais rápido na cognição global, prejudicando particularmente os domínios da memória e da fluência verbal. A pesquisa não considerou o consumo de sucralose.
Os pesquisadores destacaram a possibilidade real de danos à função cognitiva em longo prazo causados pelo consumo contínuo de adoçantes.
Foco do Estudo
Estudo
Um novo estudo observacional longitudinal acompanhou dados de 12.772 participantes do estudo Elsa Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto) durante oito anos para verificar a associação entre o consumo de adoçantes artificiais e o declínio cognitivo.
Os pesquisadores analisaram dados a partir de 2008 e consideraram variáveis sociodemográficas (idade, sexo, renda, raça e educação), de estilo de vida (atividade física, tabagismo, consumo de álcool e padrão de dieta) e clínicas (índice de massa corporal, diabetes, hipertensão, doença cardiovascular e depressão).
Os testes cognitivos estimaram capacidades como memória episódica (de recordar eventos e experiências específicas, incluindo detalhes como o que, onde e quando); fluência verbal (de gerar palavras dentro de uma categoria ou que começam com uma letra específica); e função executiva (de direcionar comportamentos a objetivos, envolvendo flexibilidade mental e velocidade de processamento para tomada de decisões).
O desempenho dos participantes nos vários aspectos cognitivos foi avaliado individualmente, para depois se calcular uma pontuação de cognição global, que é o índice considerado de maior importância. “A cognição é formada por diversos domínios, e quando você tem um problema em vários, o impacto é maior”, explicou a Dra. Claudia Suemoto, professora de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e autora sênior do estudo.
A pesquisa não incluiu a sucralose, adoçante bastante usado atualmente, mas que não estava entre os mais consumidos no Brasil durante os anos considerados no estudo.
Participaram do estudo pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), Hospital Universitário da USP (HU-USP), Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (Medicina UFMG), Hospital das Clínicas da UFMG e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
O estudo, que representa um avanço significativo na compreensão dos possíveis efeitos em longo prazo dos adoçantes artificiais sobre a função cognitiva, foi publicado na revista científica Neurology.
O consumo de adoçantes está associado a um declínio [cognitivo] mais rápido do que aquele que já é esperado pelo passar do tempo
Resultados
Os pesquisadores encontraram uma associação significativa entre maior consumo dos adoçantes aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol a um declínio mais rápido na cognição global, prejudicando particularmente os domínios da memória e da fluência verbal.
Os participantes que consumiram as maiores quantidades de adoçantes em geral apresentaram uma taxa 62% maior de declínio cognitivo global em comparação àqueles com consumo mais baixo.
Quando divididos por tipo de adoçante, somente a tagatose, entre os que foram avaliados, não apresentou nenhuma ligação com o declínio cognitivo na análise geral.
Possíveis mecanismos para a associação observada podem ser a neurotoxicidade e neuroinflamação provocadas por metabólitos dos adoçantes artificiais. Estudos anteriores em roedores mostraram que o aspartame, por exemplo, pode ser metabolizado em compostos neurotóxicos, levando à neuroinflamação mediada pela micróglia e ao declínio cognitivo.
“Nossas descobertas sugerem a possibilidade de danos a longo prazo do consumo de adoçantes, particularmente adoçantes artificiais e álcoois de açúcar, para a função cognitiva”, concluíram os pesquisadores.
Já tínhamos evidências sugerindo que [os adoçantes artificiais] poderiam ser prejudiciais, relacionados às doenças cardiovasculares e câncer, e agora temos mais uma [evidência] relacionada à cognição. Acho que essa é a mensagem
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
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Acesse a revista científica Neurology (em inglês).
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