
Fonte
Ligia Gabrielli, Unifesp
Publicação Original
Áreas
Resumo
Uma das mais amplas pesquisas sobre a vida e necessidades das pessoas cuidadoras no Brasil destacou as carências no preparo, a sobrecarga emocional e as necessidades não atendidas que essas pessoas enfrentam.
Além de apontar o perfil das pessoas cuidadoras e dos desafios do cansaço físico e mental, os pesquisadores destacaram características importantes desse trabalho realizado por cerca de 2 milhões de pessoas não profissionais no Brasil.
Considerando os números expressivos, os pesquisadores destacaram a urgência de ações como o desenvolvimento de programas de educação, de apoio financeiro e de redes de suporte, além da definição de políticas públicas que deem respaldo a essas e outras ações.
Foco do Estudo
Por que é importante?
O Brasil tem aproximadamente 1,7 milhão de pessoas acima de 60 anos vivendo com demência.
Considerando que cada pessoa cuidada necessita pelo menos de uma pessoa cuidadora, estima-se que há quase 2 milhões de cuidadores convivendo com a demência no Brasil.
São pessoas que enfrentam diariamente sobrecarga física e emocional, devido às condições de trabalho, ao contexto social e a complexidade da doença da pessoa cuidada.
Estudo
Um estudo liderado por pesquisadores(as) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) trouxe à tona os grandes desafios enfrentados por pessoas cuidadoras de pessoas com demência.
A pesquisa, publicada na revista científica Alzheimer’s & Dementia: Translational Research & Clinical Interventions, é uma das mais amplas sobre a vida e necessidades das pessoas cuidadoras no Brasil, destacando as carências no preparo, a sobrecarga emocional e as necessidades não atendidas que essas pessoas enfrentam, em sua maioria mulheres de meia-idade que desempenham esse papel sem suporte financeiro.
Realizado entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023, o estudo coletou dados de 381 participantes (taxa de resposta de 53% entre 711 potenciais convidados), dos quais 311 (82%) se identificaram como pessoas cuidadoras não profissionais, por meio de questionários digitais e entrevistas.
A pesquisa contou com a colaboração de especialistas em saúde, tecnologia e ciências sociais, garantindo uma abordagem interdisciplinar.
Os resultados mostram que os cuidadores brasileiros enfrentam desafios similares aos de outros países, mas com particularidades locais, como a falta de suporte estruturado. Os dados apontam que é essencial desenvolver intervenções culturalmente adaptadas e implementar políticas públicas no SUS para melhorar sua qualidade de vida. Isso é o que vemos nos serviços de saúde, mas não tínhamos tantos detalhes
Resultados
Em relação ao perfil das pessoas cuidadoras, a pesquisa mostrou um retrato majoritariamente feminino: 93,6% das pessoas que cuidam são mulheres, com idade média de 48,8 anos. Quase todas (94,9%) realizam o trabalho sem qualquer remuneração e 42,8% tiveram de abandonar o emprego para dedicar-se integralmente ao familiar com demência.
Mas o preço da dedicação é alto: 85% relataram exaustão emocional e 78% cansaço físico constante. Ainda assim, 44% dizem sentir-se, de alguma forma, recompensadas pelo papel – uma combinação de desgaste e propósito que evidencia a urgência de políticas de apoio.
A pesquisa também destacou outros números importantes:
- Trabalho solitário: 87% dos(as) cuidadores(as) afirmaram precisar de mais ajuda de outras pessoas;
- Mulheres no centro do cuidado: praticamente 9 em cada 10 cuidadores são filhas, esposas ou noras na faixa dos 50 anos;
- Tarefa tem enormes desafios: 62,5% relataram que o cuidado impactou negativamente sua vida pessoal;
- Falta de rede formal: na ausência de serviços públicos robustos, 1 em cada 3 pessoas cuidadoras afirma não ter ninguém para dividir tarefas durante a semana;
- Falta de preparo: 46% das pessoas cuidadoras sentem-se despreparadas para a função, e 39% possuem autopercepção negativa do próprio papel;
- Trabalho invisível: quase metade abandona o emprego para cuidar, sem compensação financeira ou garantia de direitos trabalhistas;
- Renda: ter apoio financeiro (36,3%) e compartilhamento das responsabilidades (33,1%) foram apontados como as soluções mais urgentes para melhorar o seu bem-estar;
- Apoio emocional: 62% expressaram a necessidade de suporte emocional como uma das principais carências em sua rotina de cuidado.
Com estes resultados, os pesquisadores destacaram a urgência de:
- Programas de educação para capacitar pessoas cuidadoras com informações sobre demência e técnicas de cuidado;
- Apoio financeiro via implementação de políticas públicas que aliviem a carga econômica, como benefícios sociais;
- Redes de suporte para criar estruturas públicas de compartilhamento de responsabilidades e oferecimento de suporte emocional;
- Políticas públicas para fortalecer as leis que garantem cuidado e atenção às demências e que ainda não têm implementação adequada.
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a revista científica Alzheimer’s & Dementia: Translational Research & Clinical Interventions (em inglês).
Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Universidade Federal de São Paulo.
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