
USDA NRCS South Dakota via Wikimedia Commons
Seca em plantação de milho na Dakota do Sul, EUA, em 2017
Fonte
Harrison Tasoff, Universidade da Califórnia em Santa Bárbara
Publicação Original
Áreas
Resumo
A partir de vários conjuntos de dados em nível internacional, pesquisadores compararam a precipitação pluviométrica com a demanda evaporativa atmosférica, que é a quantidade de vapor d’água requerido pela atmosfera, ao longo dos últimos 40 anos.
Com a observação do crescimento da demanda evaporativa atmosférica em relação às taxas de precipitação, os pesquisadores identificaram aumentos estatisticamente significativos das secas.
Esse aumento do período de secas pode ter implicações para a segurança alimentar e hídrica global; aumentar a quantidade de incêndios florestais e, em última análise, amplificar a instabilidade política e conflitos regionais.
Foco do Estudo
Por que é importante?
As secas geralmente são atribuídas à escassez de chuva. Mas os cientistas descobriram outro fator que contribui de uma maneira importante: o aquecimento do ar está aumentando a demanda da atmosfera por vapor d’água.
A demanda evaporativa atmosférica atua como uma esponja, absorvendo umidade mais rapidamente do que ela pode ser reposta. Isso pode extrair mais água do solo, rios e plantas.
Neste contexto, não esta claro se uma atmosfera mais quente tornaria as secas mais ou menos intensas, frequentes e generalizadas. Por um lado, com a atmosfera mais quente, o ar retém mais vapor d’água, o que contribui com as chuvas, mas também aumenta a demanda evaporativa atmosférica, o que contribui com a seca.
Estudo
Um novo estudo, publicado na revista científica Nature, mostrou que a crescente necessidade da atmosfera por água – a chamada demanda evaporativa atmosférica (DEA) – está tornando as secas mais severas, mesmo em locais onde as chuvas permaneceram estáveis. No estudo, os pesquisadores detalharam como esse fenômeno tornou as secas 40% mais severas em todo o mundo ao longo dos últimos 40 anos.
Os cientistas já sabiam que a DEA era importante, mas poucos estudos tinham medido cuidadosamente seu impacto global usando observações reais, dificultando a previsão das secas e a preparação para esses períodos extremos. Mas agora o novo estudo utilizou um conjunto de dados de alta resolução abrangendo mais de um século e aplicou métodos avançados para rastrear como a DEA aumentou e o quanto piorou as secas em todo o mundo.
“Enfrentamos um grande desafio. Não há uma maneira direta de medir com quanta ‘sede’ [de vapor d’água] a atmosfera está ao longo do tempo. Então, usamos dados climáticos de alta resolução, identificados por meio de uma avaliação global abrangente, e aplicamos os modelos mais avançados para a demanda evaporativa atmosférica — modelos que levam em conta múltiplas variáveis climáticas, não apenas a temperatura”, explicou o Dr. Solomon Gebrechorkos, hidroclimatologista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autor principal do estudo.
A equipe de pesquisa comparou a precipitação pluviométrica e a demanda evaporativa atmosférica usando vários conjuntos de dados em nível internacional. Em seguida, os pesquisadores analisaram as mudanças nos dados padronizados ao longo do tempo. “Isso nos permitiu comparar regiões úmidas e secas usando uma estrutura comum”, explicou o Dr. Chris Funk, diretor do Centro de Riscos Climáticos da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (UCSB), nos EUA.
Além da Universidade Oxford e da UCSB, participaram do estudo pesquisadores da Universidade de Southampton, Universidade Cardiff e do Centro de Ecologia e Hidrologia, no Reino Unido; do Instituto Pirenaico de Ecologia, na Espanha; da Universidade Ghent, na Bélgica; da Universidade Leipzig e do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental, na Alemanha, e também da Universidade de Ciência e Tecnologia King Abdullah, na Arábia Saudita.
Em áreas quentes, o aumento da temperatura da atmosfera em apenas alguns graus pode aumentar drasticamente a capacidade da atmosfera de extrair umidade de plantações, pastagens e florestas
Resultados
Os pesquisadores identificaram aumentos estatisticamente significativos da secas, devidos ao aumento mais rápido da DEA do que das taxas de precipitação, sugerindo uma tendência alarmante para condições mais secas.
O estudo reforçou trabalhos anteriores que mostram que as secas se tornarão mais intensas em um mundo em aquecimento. Isso tem implicações para a segurança alimentar e hídrica global, o que pode, por sua vez, amplificar a instabilidade política e os conflitos.
Outro resultado impactante pode ser o aumento de incêndios florestais: uma atmosfera que requer mais água desidrata as plantas, o que pode contribuir para o aumento dos incêndios.
Por fim, o estudo destacou a importância de sistemas de alerta precoce, gestão do risco de seca e ações antecipatórias eficazes. A previsão de secas e o aumento da demanda atmosférica podem desencadear intervenções eficazes. Por exemplo, os agricultores podem usar microirrigação ou tratamentos de solo com retenção de água para compensar o aumento da DEA.
Os pesquisadores também estão interessados em descobrir como a evaporação e a demanda atmosférica interagem com o suprimento de água, e não apenas com os padrões de precipitação. Os cientistas precisarão estudar como agricultores, cidades e ecossistemas podem se adaptar a um mundo onde a atmosfera exige cada vez mais vapor d’água.
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
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Mais Informações
Acesse a notícia original completa na página da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (em inglês).
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