
Fonte
Cristiane Pimentel, Agência UFC
Publicação Original
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Resumo
Pesquisadores realizaram experimentos neuroquímicos para observar a ação de medicamentos anti-inflamatórios já disponíveis na evolução de sintomas de depressão resistente em animais.
A depressão resistente foi induzida por molécula presente na bactéria Escherichia coli.
Os medicamentos foram capazes de reverter a maioria das alterações comportamentais, reduziram os marcadores inflamatórios e de estresse oxidativo em diferentes partes do cérebro e potencializaram o sistema de defesa do órgão, aumentando as defesas antioxidantes das células nervosas.
Foco do Estudo
Por que é importante?
Tristeza, apatia, cansaço, perda de interesse em atividades do dia a dia são alguns dos sintomas da depressão, transtorno que afeta cerca de 5% da população brasileira.
Atualmente, o Brasil é o país com mais casos da doença em toda a América Latina, como aponta o relatório ‘Depressão e outros transtornos mentais’ (Depression and Other Common Mental Disorders), da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma condição presente em torno de 30% dos pacientes com depressão é a chamada depressão refratária ou resistente, caracterizada pela presença de sintomas crônicos e não responsividade aos medicamentos.
De manejo e tratamento complexo, a depressão resistente – uma condição crônica da depressão – ainda tem suas causas estudadas pelos cientistas.
Uma das hipóteses que vem se fortalecendo nos últimos anos é a relação entre o surgimento do transtorno de humor como decorrência de uma inflamação crônica no paciente, tendo em vista que essas pessoas costumam apresentar marcadores inflamatórios aumentados.
Estudo
Cientistas do Laboratório de Neuropsicofarmacologia, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), estão investigando novas possibilidades de tratamento para a depressão resistente com o uso de anti-inflamatórios já disponíveis.
Os medicamentos testados foram dois anti-inflamatórios amplamente comercializados no Brasil – celecoxibe e etoricoxibe – utilizados no tratamento de eventos de inflamação aguda e em algumas condições crônicas, como artrite reumatoide, osteoartrite e espondilite anquilosante.
Os fármacos são da classe dos anti-inflamatórios não hormonais e atuam fazendo a inibição seletiva da ciclooxigenase-2 (COX-2), enzima relacionada aos fenômenos da inflamação e que vem sendo associada, na literatura médica, a doenças neurodegenerativas e transtornos de humor.
Experimentos
Os experimentos neuroquímicos tiveram foco na avaliação dos efeitos dos dois medicamentos no sistema nervoso central.
Em uma primeira etapa, foram induzidas alterações comportamentais e inflamatórias em camundongos por meio da exposição a uma molécula presente na bactéria Escherichia coli.
Essa molécula complexa da Escherichia coli é chamada de lipopolissacarídeo (LPS). Ao ser reconhecida pelas células do corpo, pode desencadear respostas inflamatórias potentes e, com isso, causar prejuízos ao sistema nervoso.
“[Essa molécula] LPS é um importante agente indutor de inflamação utilizado no estudo de processos inflamatórios e em pesquisas de neurofarmacologia”, disse a Dra. Francisca Cléa Florenço, coordenadora do Laboratório de Neuropsicofarmacologia da UFC.
Etapas
O estudo foi baseado na dissertação de mestrado do farmacêutico Daniel Moreira, que segue as pesquisas agora em seu doutorado. Nesta etapa, a pesquisa centra-se na utilização do celecoxibe em modelos de cultura de células para compreensão dos mecanismos envolvidos.
Uma vez presentes os comportamentos depressivos e ansiosos nos animais, eles foram tratados oralmente, por cinco dias, com pequenas doses de celecoxibe e etoricoxibe, para que fossem diminuídas as possibilidades de ocorrência de efeitos colaterais cardiovasculares.
Ao final desse período, os pesquisadores analisaram o hipocampo, o córtex pré-frontal e o estriado do cérebro dos camundongos para avaliação de parâmetros e quantificação dos marcadores inflamatórios.
O estudo foi publicado na revista científica Pharmacology Biochemistry and Behavior.
Sempre estudamos as teorias da depressão e sabemos que existem muitos medicamentos antidepressivos excelentes. Mesmo assim procuramos potenciais novas farmacoterapias. Considerando toda a teoria inflamatória da depressão, pensamos: ‘por que não tratar com anti-inflamatórios altamente seletivos em baixas doses e observar se eles, por si só, melhoram os sintomas depressivos e ansiosos? E como isso acontece?
Resultados
Os resultados foram promissores: os medicamentos foram capazes de reverter a maioria das alterações comportamentais, reduziram os marcadores inflamatórios e de estresse oxidativo em diferentes partes do cérebro e potencializaram o sistema de defesa do órgão, aumentando as defesas antioxidantes das células nervosas.
Constatada a eficácia nos testes em animais, abre-se uma perspectiva para que, no futuro, substâncias já existentes no mercado, como os anti-inflamatórios celecoxibe e etoricoxibe, possam ser utilizadas no tratamento da depressão refratária.
A professora Francisca Clea Florenço destacou que o redirecionamento de fármacos constitui uma perspectiva inovadora em farmacologia, uma vez que resulta em economia financeira, aceleração do tempo de desenvolvimento e menor necessidade de testes de toxicidade.
Apesar dos resultados positivos, os pesquisadores enfatizam que os testes foram conduzidos em camundongos, não sendo, neste momento, possível mensurar o uso ou dosagem em pacientes com transtornos de humor.
Conseguimos, a partir de nosso estudo, mostrar correlações importantes, particularmente envolvendo a ação do celecoxibe na atenuação de comportamentos semelhantes à depressão, por meio da melhora das defesas antioxidantes. Também a potencial ação antidepressiva do etoricoxibe, na supressão de citocinas pró-inflamatórias em nível do sistema nervoso central
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Autores/Pesquisadores Citados
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Publicação
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