
Nataliia Melnychuk via Shutterstock
Javalis selvagens
Fonte
Livia Inacio, Ciência UFPR
Publicação Original
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Resumo
Uma metanálise de estudos experimentais comparativos entre espécies nativas e exóticas concluiu que espécies colocadas em um novo ecossistema são mais eficazes em consumir recursos em comparação às espécies nativas, causando desequilíbrio em longo prazo.
Um exemplo de invasão de espécie animal por ação humana foi a introdução de javalis para corte de carne exótica no Brasil. Hoje, o animal está presente nos seis biomas brasileiros e em 2010 munícipios, causando impactos à saúde pública.
A pesquisa constatou também um desequilíbrio significativo entre moluscos, herbívoros e animais de água doce.
Foco do Estudo
Estudo
Um estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que analisou pesquisas sobre espécies animais introduzidas pela ação humana (as chamadas espécies exóticas invasoras) e o desequilíbrio que causam em ambientes sem preparo para recebê-las, concluiu que as espécies colocadas em um novo ecossistema são mais eficazes em consumir recursos em comparação às espécies nativas, causando desequilíbrio em longo prazo.
Essa hipótese já vinha sendo debatida por diversos autores, mas, pela primeira vez, foi testada com base em evidências científicas quantitativas globais.
A metanálise de estudos experimentais comparativos entre espécies nativas e exóticas foi conduzida pela bióloga Larissa Faria durante seu doutorado no Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), orientada pelo Dr. Jean Vitule, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da UFPR.
O estudo, publicado na revista científica Biological Reviews, contou ainda com a colaboração de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha; da Universidade Queen’s em Belfast, no Reino Unido; e da Universidade McGill, do Canadá.
Para ser considerada invasora, uma espécie precisa estar aumentando sua população e causando algum impacto. Em alguns casos, a introdução delas é intencional para cultivo, pesca, caça esportiva ou ornamentação, mas há situações acidentais, como ocorre no vazamento de água de lastro de navios ou em escapes de cultivos. Em todas elas, existe interferência humana.
Um exemplo de espécie invasora inserida no ambiente por ação humana foi a introdução de javalis para corte de carne exótica no Brasil. Hoje, o animal está presente nos seis biomas brasileiros e em 2010 munícipios, causando impactos à saúde pública.
As espécies invasoras representam risco pois são elementos novos em um ecossistema que evoluiu sem a presença delas. Isso causa um desequilíbrio ecológico, que pode ter impactos ambientais, sociais e econômicos
Resultados
O estudo da UFPR descobriu que as espécies nativas geralmente levam mais tempo para consumir suas presas e, consequentemente, consomem menos presas do que uma espécie exótica em um mesmo intervalo. Essa diferença na eficiência em consumir recursos pode explicar o impacto das espécies exóticas invasoras.
“O estudo mostra que as taxas máximas de consumo das espécies não nativas são, em média, 70% superiores às taxas das espécies análogas nativas”, disse o professor Vitule.
A pesquisa constatou também um desequilíbrio significativo entre moluscos, herbívoros e animais de água doce.
“O que não sabemos ainda é se a superioridade das espécies exóticas pode ser explicada por algo intrínseco a elas ou se está mais relacionada a uma ingenuidade das presas que não conseguem escapar de maneira eficaz dos predadores até então desconhecidos”, destacou a Dra. Larissa Faria.
Mas existe uma forma totalmente segura de inserir uma nova espécie em um ambiente? Segundo a pesquisadora, não. Isso porque é difícil prever os desdobramentos possíveis no novo local.
O problema é tão sério que o Brasil possui ao menos 85 instrumentos legais sobre esse tema na esfera federal, entre leis, decretos e instruções normativas, e legislações específicas de cada estado. Além disso, a introdução de espécies exóticas sem autorização é crime ambiental, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais 9605/1998.
Expandindo a pesquisa, o professor Jean Vitule participou recentemente de um estudo internacional, também publicado na revista científica Biological Reviews, que avaliou as distribuições geográficas, tendências de longo prazo e lacunas de dados relacionadas às invasões biológicas.
O estudo da UFPR pode contribuir com o desenvolvimento de novas políticas públicas e protocolos que previnam desastres ambientais decorrentes da introdução de espécies exóticas invasoras
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Autores/Pesquisadores Citados
Publicação
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a revista científica Biological Reviews (em inglês).
Mais Informações
Acesse o artigo completo ‘Biological invasions: a global assessment of geographic distributions, long-term trends, and data gaps‘, publicado na revista Biological Reviews (em inglês).
Acesse a notícia original completa na página do Portal Ciência UFPR.
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