
NIAID/NIH
Erupção cutânea associada ao vírus herpes-zóster
Fonte
Nina Bai, Escola de Medicina da Universidade Stanford
Publicação Original
Áreas
Resumo
Estudos anteriores que tentaram correlacionar a vacina contra o herpes-zóster com a diminuição do risco de demência em idosos falharam pelo viés sobre as pessoas que se vacinam, que geralmente cuidam melhor da saúde do que aquelas que não se vacinam.
Contando com uma estratégia de vacinação diferente no País de Gales que naturalmente filtraria o viés das pessoas que se vacinavam, pesquisadores puderam acessar os registros de saúde dos participantes como se fossem dados de um ‘estudo clínico ideal randomizado’.
Os resultados mostraram que a vacinação contra o herpes-zóster, que usou vírus vivo atenuado, pode reduzir em até 20% o risco de desenvolver demência em idosos nos sete anos subsequentes à vacina em relação àqueles que não foram vacinados.
Foco do Estudo
Por que é importante?
O herpes-zóster, uma infecção viral que produz erupções cutâneas dolorosas, é causada pelo mesmo vírus que causa a catapora – o vírus varicela-zóster. O vírus permanece dormente nas células nervosas e, em pessoas mais velhas ou com o sistema imunológico enfraquecido, o vírus dormente pode ser reativado e causar a manifestação do herpes.
Já a demência afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo, com uma estimativa de 10 milhões de novos casos a cada ano.
Existe uma teoria emergente que defende a ideia que os vírus que afetam o sistema nervoso podem aumentar o risco de demência.
Estudo
Em um novo estudo liderado pela Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos EUA, pesquisadores analisaram registros de saúde de idosos do País de Gales e descobriram que aqueles que receberam a vacina contra herpes-zóster tiveram 20% menos probabilidade de desenvolver demência nos sete anos subsequentes à vacina do que aqueles que não foram vacinados.
As descobertas foram publicadas na revista científica Nature.
Estudos anteriores baseados em registros de saúde já tinham associado a vacina contra herpes-zóster a menores taxas de demência. Porém estudos comparativos entre pessoas vacinadas e não-vacinadas têm um viés aparentemente ‘inevitável’: pessoas que se vacinam geralmente têm mais cuidado com a saúde e adotam estilos de vida mais saudáveis, o que pode ‘mascarar’ os resultados. Isso enfraquece as evidências do ponto de vista científico.
Mas uma regra para vacinação contra herpes-zóster no País de Gales anos atrás mudaria o cenário e ofereceria um ‘estudo clínico natural’ sem esse viés das pessoas vacinadas.
Devido à disponibilidade limitada da vacina, o programa de vacinação contra herpes-zóster no País de Gases – que começou em 1º de setembro de 2013 – especificou que qualquer pessoa com 79 anos naquela data seria elegível para se vacinar. Quem tivesse 78 anos naquela data poderia se vacinar no ano seguinte, e assim por diante. Sempre pessoas de 79 anos poderiam se vacinar.
Portanto, essa estratégia de vacinação – cujas vacinas usavam o vírus vivo atenuado – excluía naturalmente pessoas com 80 anos ou mais em setembro de 2013, que nunca poderiam tomar a vacina.
Essa estratégia de vacinação permitiu aos pesquisadores compararem os resultados de demência em pessoas com idades muito próximas e com mesmo perfil médio que tinham se vacinado com as pessoas que não tinham se vacinado, ao longo de 7 anos. Sem vieses.
“As circunstâncias, bem documentadas nos registros de saúde do país, eram o mais próximo de um estudo clínico randomizado que você poderia chegar sem conduzir um estudo clínico”, disse o Dr. Pascal Geldsetzer, professor da Escola de Medicina da Universidade Stanford e autor sênior do estudo.
O que torna o estudo tão poderoso é que ele é essencialmente como um estudo randomizado com um grupo de controle – aqueles um pouco velhos demais para serem elegíveis para a vacina – e um grupo de intervenção — aqueles com idade para serem elegíveis
Resultados
Os pesquisadores analisaram os registros de saúde de mais de 280.000 idosos que tinham de 71 a 88 anos e não tinham demência no início do programa de vacinação no País de Gales. Eles concentraram a análise naqueles mais próximos de ambos os lados da idade limite de elegibilidade (79 anos).
Nos sete anos seguintes, os pesquisadores compararam os resultados de saúde de pessoas com idade mais próxima que eram elegíveis e inelegíveis para receber a vacina. Ao levar em consideração as taxas reais de vacinação — cerca de metade da população que era elegível recebeu a vacina, em comparação com quase nenhuma das pessoas que eram inelegíveis — eles puderam derivar os efeitos de receber a vacina.
Como esperado, a vacina reduziu a ocorrência de herpes-zóster durante esse período de sete anos em cerca de 37% para pessoas que receberam a vacina, semelhante ao que foi encontrado em ensaios clínicos da vacina. (A eficácia da vacina viva atenuada diminui com o tempo.)
Em 2020, um em cada oito idosos participantes, que tinham então 86 e 87 anos, foi diagnosticado com demência. Mas aqueles que receberam a vacina contra herpes-zóster tiveram 20% menos probabilidade de desenvolver demência do que os não vacinados.
Os cientistas procuraram por outras variáveis que pudessem ter influenciado o risco de demência, mas descobriram que os dois grupos eram indistinguíveis em todas as características.
Outra descoberta do estudo mostrou que a proteção contra a demência foi muito mais pronunciada em mulheres do que em homens. Isso pode ser devido a diferenças sexuais na resposta imunológica ou na forma como a demência se desenvolve, disse o professor Pascal Geldsetzer. As mulheres, em média, têm respostas de anticorpos mais altas à vacinação, por exemplo, e o herpes-zóster é mais comum em mulheres do que em homens.
Nos últimos dois anos, a equipe de pesquisa replicou as descobertas do País de Gales em registros de saúde de outros países, incluindo Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, que tiveram implementações semelhantes da vacina. “Continuamos vendo esse forte sinal de proteção nesses novos conjuntos de dados”, concluiu o pesquisador.
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Autores/Pesquisadores Citados
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