
Fonte
Sidney Rodrigues Coutinho, UFRJ
Publicação Original
Áreas
Resumo
Cientistas indianos e brasileiros desenvolveram um método de análise de águas residuais que pode antecipar em meses ondas epidêmicas, evitando que se tornem pandemias.
O trabalho mostrou que o material genético Delta e Ômicron do vírus Sars-CoV-2 foi detectado em rios da cidade do Rio de Janeiro muito antes dos primeiros casos dessas variantes serem revelados em pacientes no Brasil.
Foco do Estudo
Por que é importante?
A disseminação descontrolada de vírus, que pode causar pandemias em escala global e provocar a morte de milhões de pessoas, como foi o caso da COVID-19, é um tema de estudo importante em saúde pública e mobiliza cientistas no mundo todo.
Neste sentido, o melhor controle sobre a propagação de um vírus dependeria do conhecimento precoce sobre sua localização, para que estratégias de contenção pudessem ser traçadas.
Uma das maneiras de monitorar precocemente a presença de vírus em uma região é realizar um controle sobre as águas residuais, já que mesmo indivíduos infectados mas ainda assintomáticos já eliminariam o vírus no ambiente.
Estudo
Pesquisadores do Brasil e da Índia desenvolveram uma metodologia para a identificação precoce de vírus em águas coletadas de rios, lagos e esgotos.
O teste – chamado Illumina CovidSeq – que usa uma metodologia de análise de genoma e tem maior precisão do que o atual padrão para detecção viral, foi aplicado para identificar as principais variantes do vírus da COVID-19.
Entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2022, os pesquisadores coletaram 44 amostras únicas de águas residuais afluentes e de rios poluídos em diferentes locais no Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Na Índia, as amostras foram obtidas de quatro cidades diferentes dos estados de Andra Pradexe e Telanganá, entre abril e dezembro de 2022. Na região metropolitana carioca, a coleta ocorreu nos rios Jacaré e Faria Timbó, além do Canal do Cunha.
De acordo com os pesquisadores, o monitoramento genômico de variantes preocupantes do vírus Sars-CoV-2 em águas fluviais e de esgoto tem sido amplamente utilizado como ferramenta epidemiológica em todo o mundo.
A análise do sequenciamento genético, embora leve alguns dias, detecta o tipo de vírus de forma mais precisa do que a análise laboratorial, segundo o Dr. Fabiano Thompson, professor do Laboratório de Microbiologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): “Embora seja mais rápido, com resultados em questão de horas, o exame RT-PCR deu negativo em muitos casos, enquanto o nosso método detectou a presença de COVID nas mesmas amostras ambientais”.
O estudo, publicado na revista científica Science of The Total Environment, contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz) e do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em colaboração com pesquisadores da University College of Engineering, Science & Technology Hyderabad (UCEST), na Índia.
O trabalho desenvolvido é de grande importância estratégica. Quando há propagação de um vírus no ambiente, seja o da covid ou de uma gripe, existem indivíduos assintomáticos. Mesmo que a maioria das pessoas não manifeste a doença, elas eliminam partículas virais na urina e nas fezes que vão parar nas redes de saneamento ou águas residuais
Resultados
De acordo com o professor Fabiano Thompson, a comparação entre a metodologia que usa análise genômica e o exame RT-PCR demonstrou que o sequenciamento do genoma antecipa em até seis meses a presença de um vírus no ambiente.
“Seria mais rápido promover o isolamento social de alguns grupos ou optar por alterar o regime de trabalho, presencial ou home-office. Nós podemos fazer um monitoramento e nos preparar melhor comprando insumos de proteção, ou saber as áreas onde há maior incidência do vírus em águas residuais ou calcular melhor como a doença se alastra, em vez de só buscar onde ela começou”, concluiu o professor Fabiano.
Os pesquisadores destacaram que a vigilância de mananciais e esgoto pode ser importante para a detecção precoce de variantes emergentes de vírus, oferecendo uma vantagem preventiva sobre análises de amostras clínicas.
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a revista científica Science of The Total Environment (em inglês).
Mais Informações
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