
Fonte
Júlio Bernardes, Jornal da USP
Publicação Original
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Resumo
Em uma pesquisa internacional multicêntrica, cientistas estudaram como a resposta imune provocada por vacinas poderia ser potencializada por mais tempo.
Os pesquisadores identificaram que as plaquetas estão associadas a essa resposta imune persistente, e que o hormônio trombopoetina (TPO) – produzido no fígado e nos rins e que ativa os megacariócitos a se diferenciarem em plaquetas – potencializa essa resposta imune mais longa.
Foco do Estudo
Por que é importante?
As vacinas estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos, que podem prevenir doenças ou evitar que evoluam para quadros mais graves.
Porém, a ‘duração’ das vacinas não é infinita: depois de algum tempo, podem ser necessárias outras doses para reforçar o sistema imunológico. De qualquer modo, existe um desafio científico em compreender marcadores dessa persistência da ação das vacinas, que poderiam ajudar a definir adjuvantes que ativassem a resposta imunológica por mais tempo.
Estudo
Um estudo internacional multicêntrico revelou, recentemente, que as plaquetas podem ser um biomarcador relacionado à resposta imune longa e persistente das vacinas.
O estudo, liderado por cientistas da Escola de Medicina da Universidade Stanford, também contou com pesquisadores da Universidade de Cincinnati, Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), Escola de Medicina Icahn em Monte Sinai, Escola de Medicina da Universidade de Nova York, Emory Vaccine Center, The Jackson Laboratory for Genomic Medicine, Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID/NIH), todas instituições nos EUA, além da Universidade de Quioto, no Japão; da farmacêutica GSK, na Bélgica e do Hospital Israelita Albert Einstein, representado pelo Dr. Helder Nakaya, que também é professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP).
Através de análises de expressão genética (transcriptoma), experimentos com animais e culturas de células, os pesquisadores apontaram que a resposta imune pode ser potencializada pelo hormônio TPO, produzido pelo fígado e pelos rins, que ativa a síntese de plaquetas, combinada com a ação das células B, produtoras de anticorpos.
O professor Helder Nakaya relatou que o objetivo inicial da pesquisa era entender o efeito adjuvante, ou seja, de que forma a resposta imunológica da vacina seria potencializada.
“Para saber os fatores que influenciavam essa resposta e sua duração, nós analisamos os níveis de células B [produtoras de anticorpos], afinidade aos anticorpos e dados de transcriptoma das células [que analisa a expressão dos genes da célula]”, explicou o pesquisador.
“Também fizemos análise de citometria de fluxo [que avalia as concentrações celulares] e de células T foliculares, que ajudam as células B a produzir os anticorpos e que são o objetivo desta vacina”, continuou o professor Nakaya.
Esse trabalho começou com a proposta de fazer vacinologia de sistemas, tentando desvendar o mecanismo molecular da imunidade que era induzida pela vacina contra H5N1. Para compreender esse mecanismo, a vacinologia de sistemas tem que combinar tecnologias ômicas e dados imunológicos
Resultados
“Nós estávamos analisando o transcriptoma, ou seja, a atividade de 20 mil genes ao mesmo tempo, antes e depois da vacinação, e notamos que uma das diferenças da vacina que induzia uma resposta longa, era uma assinatura de plaquetas”.
De acordo com o professor Nakaya, quando foram aplicadas duas doses da vacina H5N1, a resposta imune foi alta, mas passageira. “Quando você incluía o adjuvante, a resposta não só era alta como duradoura”, destacou. “Observamos que os genes de plaquetas estavam associados a essa resposta longa, mas como plaquetas não possuem núcleo, sabíamos que não estávamos detectando mudanças de expressão dos genes dentro desses fragmentos de células”.
“As plaquetas são derivadas de células precursoras chamadas megacariócitos, que estão na medula óssea. Então, a hipótese era de que eles poderiam ter algum papel na resposta imunológica longa persistente de anticorpos”, observou o pesquisador. “Isso foi testado com o uso de trombopoetina (TPO), hormônio produzido no fígado e nos rins que ativa os megacariócitos a se diferenciarem em plaquetas”.
Na etapa seguinte da pesquisa, foram realizados experimentos em camundongos, vacinados com o antígeno do H5N1 e o adjuvante, com ou sem TPO. “O que queríamos saber era se TPO aumentaria a longevidade da resposta imune”, afirmou o pesquisador. “Foi visto que os camundongos que eram estimulados com TPO e a vacina tinham resposta mais alta e mais duradoura do que os animais que apenas recebiam a vacina”.
Os resultados foram publicados na revista científica Nature Immunology. O artigo científico é resultado de mais de dez anos de pesquisas do grupo liderado pelo Dr. Bali Pulendran, professor da Escola de Medicina da Universidade Stanford, com quem o professor Nakaya tem colaborado desde o pós-doutorado, com estudos na FCF-USP e no Hospital Israelita Albert Einstein.
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Autores/Pesquisadores Citados
Instituições Citadas
Publicação
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a revista científica Nature Immunology (em inglês).
Mais Informações
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